sábado, 5 de abril de 2008

Dez maneiras de combater o ódio

O site tolerance.org tem se mostrado como um dos melhores recursos para educadores na tarefa de propor alternativas e valores humanos na tarefa da construção de uma cultura de paz. Além dos recursos específicos para educadores, o site disponibiliza também seções para pais, adolescentes e crianças, com apostilas, livros, músicas, imagens, etc.

Dentre o vasto material encontrado, quero destacar a cartilha "Dez maneiras de combater o ódio". Ainda não se pode econtrá-la em português, mas, além do inglês, disponível também em espanhol, o que já ajuda em muito aqueles que não dominam a língua inglesa. Vale a pena conferir:



Dez maneiras de combater o ódio

Yahweh - U2

Embedded Video


Yahweh (tradução)

Composição: U2


Pegue esses sapatos
Fazendo toc-toc por alguns becos-sem-saída
Pegue esses sapatos
E os faça servir

Pegue essa camisa
Lixo de poliéster branco feita em lugar nenhum
Pegue essa camisa
E a faça limpa

Pegue essa alma
Presa num pouco de pele e ossos
Pegue essa alma
E a faça cantar


Javé, Javé
Sempre há dor antes de uma criança nascer
Javé, Javé
Ainda estou esperando pelo amanhecer


Pegue essas mãos
Ensine-as o que carregar
Pegue essas mãos
Não faça um punho

Pegue essa boca
Tão rápida para criticar
Pegue essa boca
Dê-lhe um beijo

Javé, Javé
Sempre há dor antes de uma criança nascer
Javé, Javé
Ainda estou esperando pelo amanhecer

Ainda esperando pelo amanhecer, o sol está nascendo
O sol está nascendo no oceano
Esse amor é como uma gota no oceano
Esse amor é como uma gota no oceano

Javé, Javé
Sempre há dor antes de uma criança nascer
Javé, Javé
Porque a escuridão antes do amanhecer?

Pegue essa cidade
Uma cidade deve brilhar numa colina
Pegue essa cidade
Se ela for seu destino

O que nenhum homem pode ter, nenhum homem pode pegar
Pegue este coração
Pegue este coração
Pegue este coração
E o faça partir

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A Casa Comum

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A queda das barreiras ecumênicas

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Declaração de Princípios sobre a Tolerância*


Artigo 1º - Significado da tolerância

1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade política e jurídica. A tolerância é uma virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz.

1.2 A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso a tolerância poderia ser invocada para justificar lesões a esses valores fundamentais. A tolerância deve ser praticada por indivíduos, pelos grupos e pelo Estado.

1.3 A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo (inclusive o pluralismo cultural), da democracia e do Estado de Direito. Implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo e fortalece as normas enunciadas nos instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos.


1.4 Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a tolerância não significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade. Significa aceitar o fato de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.


Artigo 2º - O papel do Estado

2.1 No âmbito do Estado, a tolerância exige justiça e imparcialidade na legislação, na aplicação da lei e no exercício dos poderes judiciário e administrativo. Exige também que todos possam desfrutar de oportunidades econômicas e sociais sem nenhuma discriminação. A exclusão e a marginalização podem conduzir à frustração, à hostilidade a ao fanatismo.

2.2 A fim de instaurar uma sociedade mais tolerante, os Estados devem ratificar as convenções internacionais relativas aos direitos humanos e, se for necessário, elaborar uma nova legislação a fim de garantir igualdade de tratamento e de oportunidades aos diferentes grupos e indivíduos da sociedade.

2.3 Para a harmonia internacional, torna-se essencial que os indivíduos, as comunidades e as nações aceitem e respeitem o caráter multicultural da família humana. Sem tolerância não pode haver paz e sem paz não pode haver nem desenvolvimento nem democracia.

2.4 A tolerância pode ter a forma de marginalização dos grupos vulneráveis e de sua exclusão de toda participação na vida social e política, e também a da violência e da discriminação contra os mesmos. Como afirma a Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Raciais, "Todos os indivíduos e todos os grupos têm o direito de ser diferentes" (art.1.2).


Artigo 3º - Dimensões sociais

3.1 No mundo moderno, a tolerância é mais necessária do que nunca. Vivemos uma época marcada pela mundialização da economia e pela aceleração da mobilidade, da comunicação, da integração e da interdependência, das migrações e dos deslocamentos de populações, da urbanização e da transformação das formas de organização social. Visto que inexiste uma única parte do mundo que não seja caracterizada pela diversidade, a intensificação da intolerância e dos confrontos constitui ameaça potencial para cada região. Não se trata de ameaça limitada a esse ou aquele país, mas de ameaça universal.

3.2 A tolerância é necessária entre os indivíduos e também no âmbito da família e da comunidade. A promoção da tolerância e o aprendizado da abertura do espírito, da ouvida mútua e da solidariedade devem se realizar nas escolas e nas universidades, por meio da educação não formal, nos lares e nos locais de trabalho. Os meios de comunicação devem desempenhar um papel construtivo favorecendo o diálogo e debate livres e abertos, propagando os valores da tolerância e ressaltando os riscos da indiferença à expansão das ideologias e dos grupos intolerantes.

3.3 Como afirma a Declaração da UNESCO sobre a Raça e os Preconceitos Raciais, medidas devem ser tomadas para assegurar a igualdade na dignidade e nos direitos dos indivíduos e dos grupos humanos em todo lugar onde isso seja necessário. Para tanto, deve ser dada atenção especial aos grupos vulneráveis social ou economicamente desfavorecidos, a fim de lhes assegurar a proteção das leis e regulamentos em vigor, sobretudo em matéria de moradia, de emprego e de saúde e respeitar a autenticidade de sua cultura e de seus valores e de facilitar, em especial pela educação, sua promoção e sua integração social e profissional.

3.4 A fim de coordenar a resposta da comunidade internacional a esse desafio universal, convém realizar estudos científicos apropriados e criar redes, incluindo a análise pelos métodos das ciências sociais das causas profundas desses fenômenos e das medidas eficazes para enfrentá-las, e também a pesquisa e a observação, afim de apoiar as decisões dos Estados membros em matéria de formulação política geral e ação normativa.


Artigo 4º - Educação

4.1 A educação é o meio mais eficaz de prevenir a intolerância. A primeira etapa da educação para a tolerância consiste em ensinar os indivíduos quais são os seus direitos e suas liberdades a fim de assegurar seu respeito e de incentivar a vontade de proteger os direitos e liberdades dos outros.

4.2 A educação para a tolerância deve ser considerada como imperativo prioritário; por isso, é necessário promover métodos sistemáticos e racionais de ensino de tolerância centrados nas fontes culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas da intolerância que expressam as causas profundas da violência e da exclusão. As políticas e programas de educação devem contribuir para o desenvolvimento da compreensão, da solidariedade e da tolerância entre os indivíduos, entre os grupos étnicos, sociais, culturais, religiosos, lingüísticos e as nações.

4.3 A educação para a tolerância deve visar a contrariar as influênciasque levam ao medo e à exclusão do outro e deve ajudar os jovens a desenvolver sua capacidade de exercer um juízo autônomo, de realizar uma reflexão crítica e de raciocinar em termos éticos.

4.4 Comprometemo-nos a apoiar e a executar programas de pesquisa em ciências sociais e de educação para a tolerância, para os direitos humanos e para a não violência. Por conseguinte, torna-se necessário dar atenção especial à melhoria da formação dos docentes, dos programas de ensino, do conteúdo dos manuais e cursos e de outros tipos de material pedagógico, inclusive as novas tecnologias educacionais, a fim de formar cidadãos solidários e responsáveis, abertos a outras culturas, capazes de apreciar o valor da liberdade, respeitadores da dignidade dos seres
humanos e de suas diferenças e capazes de prevenir os conflitos ou de resolvê-los por meios não violentos.


Artigo 5º - Compromisso de agir

Comprometemo-nos a fomentar a tolerância e a não violência por meio de programas e de instituições no campo da educação, da ciência, da cultura e da comunicação.


Artigo 6º - Dia Internacional da Tolerância

A fim de mobilizar a opinião pública, de ressaltar os perigos e de reafirmar nosso compromisso e nossa determinação de agir em favor do fomento da tolerância e da educação para a tolerância, nós proclamamos solenemente o dia 16 de novembro de cada ano como o Dia Internacional da Tolerância.


*Proclamada e assinada em 16 de novembro de 1995

(**) A tradução para o Português (junho de 1997) é uma cortesia da Universidade de São Paulo, no marco do "Seminário Internacional Ciência, Cientistas e a Tolerância", desenvolvido pela USP –Pró-Reitoria de Pós-Graduação, em cooperação com a UNESCO – Unidade de Tolerância (18a 21 de novembro de 1997). Texto original em inglês.

O elo perdido

Para a pesquisadora Mary Evelyn Tucker, o ser humano precisa se lembrar de que ainda faz parte da natureza

Maria Zulmira de Souza

A americana Mary Evelyn Tucker é uma estudiosa das religiões orientais, como confucionismo, budismo e hinduísmo. Já escreveu diversos livros em que procura retraçar as ligações entre religião e ecologia e a busca pelo equilíbrio entre as exigências de uma vida moderna e a preservação da natureza. Coordena – junto com John Grim,um pesquisador das culturas nativas da América do Norte, com quem está casada há 28 anos, mantendo uma relação de companheirismo intelectual e vida conjugal – o Fórum de Religião e Ecologia, um canal mundialmente famoso de debates sobre o tema.

Através do recheado portal www.religionandecology.com, de inúmeras publicações e seminários no Centro de Estudos das Religiões do Mundo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos,Mary busca reconectar o homem aos valores sagrados do mundo natural.Acredita que depois de se afastar do destino do homem na Terra, dando preferência ao Céu, as principais religiões ocidentais podem ter desempenhado um papel decisivo na mudança como a humanidade se relaciona com o planeta.

Mary (acompanhada de John) esteve no Brasil no último mês de julho, participando do fórum Religião, Ciência e Ambiente, na Amazônia, promovido pela Patriarca da Igreja Ortodoxa Grega Bartolomeu Primeiro.


Você acha que vivemos uma crise ética?
Acho que há uma enorme crise ética relacionada ao meio ambiente. Estamos mudando o padrão da evolução natural para sempre, com a extinção de espécies, a alteração do ciclo das águas, das chuvas, como acontece na Amazônia atualmente. Isso é irreversível. Precisamos relembrar que fazemos parte desse processo da natureza. É uma crise moral e isso é muito aflitivo. As mudanças climáticas ilustram isso muito bem. O que vai acontecer aqui na Amazônia ou na Indonésia? É um grande pesar, mas os Estados Unidos, com 4% da população mundial, usam 25% dos recursos naturais do planeta. As pessoas ao redor do mundo querem transformações e lideranças morais.


Há uma mudança na maneira como algumas religiões encaram a natureza?
As religiões estão emergindo para uma fase ecológica. A crise que estamos vivendo chama as religiões a isso, a reexaminar suas doutrinas, práticas e rituais e reconfigurá-los para o mundo moderno. O diálogo ambiental das tradições religiosas já está ocorrendo, como no Parlamento das Religiões em Chicago, em 1993, na África do Sul, em 1999, nas fortes indicações do patriarcado da Igreja Ortodoxa Grega, entre outras manifestações.


Dá para afirmar que estamos afastados da natureza?
Acho que há muitas razões para estarmos separados do mundo natural. Em parte porque a ciência quer estudar a natureza objetivamente. Em parte por conta da explosão populacional para mais de 6 bilhões de pessoas em apenas um século. Essa alienação da natureza caracterizou especialmente o século 20, com uma sucessão de guerras, revoluções e mudanças. Passamos de um período de 10 mil anos de história vivendo em pequenas comunidades próximas aos rios na África, Ásia e América Latina para uma explosão de cidades. Essa é uma imensa mudança em nossa psique, em nosso espírito.


É possível ser religioso mesmo sem ter uma religião específica?
Para mim é possível ser espiritualista sem estar ligado a uma religião ou fé específica. Acho que a maior parte do movimento ambientalista se inspirou, como John costuma dizer, num senso de beleza, de complexidade e integração com a própria natureza. É ver uma semente, uma planta, uma flor ou a nós mesmos como uma parte microscópica de algo muito maior, do macrocosmo, do sistema solar ou até do Universo. Podemos tomar como exemplo que a maior parte das pessoas sente-se renovada e restaurada ao ver um pôr-do-sol, ao estar na praia, na montanha. Isso vai nos ajudar no movimento ambiental, se pensarmos de maneira mais cuidadosa.


Como foi a experiência de conhecer a Amazônia?
Extraordinária. É impressionante o tamanho, a escala, a diversidade e a serenidade dos trechos de rio que percorremos nos pequenos barcos. É lindo. Por outro lado, ver diretamente os problemas das comunidades locais, dos povos indígenas, os imensos campos de soja e a destruição que está acontecendo nos últimos anos – tudo isso é muito perturbador.


Há uma receita pessoal para estar em equilíbrio com a natureza?
Todos nós estamos em busca da nossa receita. Todos nós estamos em busca dessa intimidade, desse senso de pertencer a uma comunidade, buscando um caminho de volta à comunidade terrestre. Eu digo isso de uma maneira muito prática também. Naturalmente considero que fazemos parte de uma história maior, que somos feitos da mesma matéria que compõe o Universo, os mesmos materiais que estão no nosso corpo estão nas estrelas, por exemplo. Compreendendo essa conexão em larga escala, isso me equilibra e me inspira. Nós procuramos esse alimento que nos energize e nós queremos esse alimento conectado ao mundo natural. E num sentido queremos água pura para beber. E tem o fogo. O Brasil tem uma música que traz o sentido do fogo, você sente fogo quando as pessoas se cumprimentam. É o fogo da música, da intimidade, do cumprimento, do beijo, do abraço. Acho que o Brasil pode nos ajudar a achar esse novo equilíbrio.

Você e John são casados, têm as mesmas preocupações e se dedicam ao mesmo tema. Como é trabalhar juntos?
Isso não seria possível se não tivéssemos compromisso com uma visão mais ampla, com uma parceria. Sou muito grata por ter um companheiro que compartilhe esse compromisso. Ele trabalha mais com as religiões indígenas, e eu com as orientais. Aprendemos muito um com o outro.


Fonte: Vida Simples


Diálogo e ecologia. A teologia teoantropocósmica de Leonardo Boff.

BAPTISTA, Paulo Agostinho Nogueira. Diálogo e ecologia. A teologia teoantropocósmica de Leonardo Boff. Orientador: Dr. Faustino Luiz Couto Teixeira. Juiz de Fora/MG, UFJF/Ciência da Religião – área de concentração: Diálogo Inter-religioso, 2001 – Dissertação de Mestrado.

A sensibilidade religiosa, tão sedimentada no coração humano, em todas as culturas e civilizações, depois de ter sido considerada em declínio, por alguns, no embate com a secularização, faz-se mais presente do que nunca. Expressa-se de mil formas e manifesta toda a riqueza metafísica que o desejo humano é capaz de produzir, reagindo às inúmeras faces do Mistério presente na beleza, na bondade e na verdade. E essa sensibilidade apresenta-se também como reação aos problemas e à crise global que o mundo todo vive. Daí nasce um grande desafio: o diálogo inter-religioso e uma conseqüente Teologia das Religiões.

A ecologia, por outro lado, representa, hoje, a preocupação fundamental, que não fica mais restrita aos grupos de ambientalistas ou aos herdeiros da sensibilidade de Francisco de Assis. Tornou-se uma questão mundial central, pois os relatórios de especialistas, ou mesmo a constatação empírica, revelam que a casa-comum - a mãe-Terra - está doente e sofre junto com seus filhos as conseqüências do modelo de exploração e de desenvolvimento que, há séculos, predomina em quase todos os lugares, ganhando enorme proporção, neste mundo globalizado.

Diálogo e Ecologia, duas questões que se articulam e expressam a emergência de uma consciência ao mesmo tempo ecológica e dialogante. A ecologia sai do nicho ambientalista e torna-se assunto e tarefa de todos. O diálogo inter-religioso deixa de ser preocupação só de teólogos ou religiosos dirigentes e passa para a agenda política e pedagógica. Duas grandes áreas da reflexão ganham atualidade e urgência: Teologia das Religiões e Ecologia.

A pesquisa sobre essa articulação encontrou na teologia de Leonardo Boff, a partir do paradigma ecológico, a possibilidade de se cumprir um dos grandes desafios da atualidade: promover o encontro, o dialogação espiritual, fraterna e ética, gerando a re-ligação e a dialogação de todos com todos, verdadeiro diálogo teoantropocósmico.

Três capítulos buscam dar estrutura à dissertação. O primeiro concentra-se em construir o marco teórico, que servirá de fundamento para a análise da teologia de Boff. Buscando-se o apoio da categoria paradigma de Thomas Kuhn (sentido sociológico e filosófico) e na sua aplicação própria ao campo teológico, do excelente trabalho de Hans Küng, pode-se analisar a mudança operada na teologia de Boff, concluindo-se que, efetivamente houve uma mudança de paradigma. Mesmo sendo um autor de grande produção teológica, que escreveu sobre diversos tratados, e mesmo apresentando as continuidades presentes no atual estágio teológico de seu trabalho, suas descontinuidades não deixam dúvida: o paradigma ecológico representa uma mudança paradigmática, uma grande transformação, uma mudança de macroparadigma: a ecologia.

Para tornar compreensível essa virada teológica a categoria cosmoteândrica (Raimon Panikkar), neste trabalho assumida ecologicamente e criticamente (andrós x anthrôpos) como teoantropocósmica, foi importante, pois ofereceu inteligibilidade à nova construção teológica pericorética de Leonardo Boff.

E a articulação de toda mudança se deu na concepção de ecologia. Essa concepção, em Leonardo, revelou-se e se revela hoje, profundamente libertadora, pois transcende às visões parciais e redutoras, buscando integrar todos os aspectos e sujeitos da realidade. Assim, ambiente, sociedade, política, economia, mente, ética e espiritualidade e todas as dimensões humanas devem ser transformadas pela nova centralidade: o inter-relacionamento e o cuidado com tudo que mantém e garante a Vida.

O sujeito e o lugar teológico se ampliam. Não só o ser humano tem subjetividade, ela é estendida à natureza, ao cosmos todo. O fazer teológico mantém-se fundamentalmente preocupado com a luta pela Vida, mas de todos e de todas as formas. Assim, a grande intuição e contribuição teológica latino-americana permanece com toda a vitalidade e pode continuar testemunhando o Ressuscitado. A práxis eclesiológica de rede-de-comunidades-de-base , democrática e inclusiva, continua a se apresentar como a resposta atual e universalizável da utopia do Reino transfigurado, a Ressurreição. Garante o testemunho sacramental da comunhão trinitária e se abre aos sinais dos tempos, assumindo sua tarefa de ser sinal da dimensão crística cósmica, anunciando que a Vida vence.

Essa teologia foi qualificada como teoantropocósmica, articulando a concepção de Deus (resgatando o Panenteísmo, a Pneumatologia, a Cristologia cósmica e a Trindade cósmica) de ser humano (nó-de-relações) e de mundo (a cosmologia do jogo, da complexidade que se apresenta una na diversidade de formas) numa relação de uma pericórese recíproca.

Como teologia teoantropocósmica, a teologia de Leonardo Boff surge como verdadeira Teologia das Religiões, oferecendo perspectivas teóricas e praxísticas para o diálogo inter-religioso.

Teoricamente, o conceito teoantropocósmico oferece a base para o inter-relacionamento, o encontro e o diálogo, pois resgata a experiência originária, garantindo um patamar universal, o estar-com-o-outro na sua ex-sistência, e chamando todos a descobrir a imensa vida que se articula de mil formas e em todos os seres. Aqui, o diálogo se estende da ciência, em suas últimas descobertas, às pessoas e comunidades que não perderam a sensibilidade pelo Sentido Último e que são capazes de contemplá-lo numa flor, numa criança, num inocente que sofre.

Mas a teologia teoantropocósmica também se apresenta como práxis, fiel à sua origem latino-americana. Práxis que nasce da mística e a ela retorna, mas que se encarna e transparece no encontro existencial nascido do choque das diversas situações de vida e da realidade. Aqui, inaugura-se a realização do sonho do encontro: uma fraternidade cósmica que não tem pátria, classe, gênero, faixa etária, situação política ou religiosa. É a ação de re-construir a família cósmica. Essa re-construção tem como referência um novo ethos alicerçado na compaixão e no cuidado. A práxis, portanto, também se mantém fiel ao sentido pericorético teoantropocósmico: mística, fraternidade e ética se implicam mutuamente, todo o tempo.

Por fim, a teologia de Leonardo Boff, no paradigma ecológico, representa para a Teologia das Religiões um paradigma denominado neste trabalho de inclusivismo sui generis, teoantropocósmico. Esse inclusivismo é garantido pela centralidade ontológica que Jesus Cristo tem na visão teológica de Leonardo Boff. O mistério pascal inaugura uma mudança ecológica qualitativa: a consciência da filiação divina; e abre o ser humano e o cosmos ao verdadeiro sentido: espelhar o Mistério de Comunhão Trinitária. Jesus Cristo Cósmico é modelo para o ser humano, a plena consciência e a máxima proximidade de Deus à humanidade, mas também, pela Ressurreição é o horizonte que transforma e transfigura tudo, que abre a todos e a tudo a participação e integração em Deus. Realiza-se, assim, o grande encontro, a total dialogação, a plena re-ligação cósmica.

E a conclusão é, portanto, que Leonardo Boff oferece uma teologia cristã aberta, que dialoga e conclama ao diálogo. Inclui e reúne todos em torno da Fonte que gera a vida. É uma teologia que se aprofunda na mística, convoca à encarnação e chama a todos a assumirem sua filiação ao Mistério Inefável, superando as diferenças, ao mesmo tempo se enriquecendo delas, realizando o diálogo ecológico e expressando a unidade pericorética teoantropocósmica.

Diálogo e Ecologia apresentam-se, portanto, como uma reflexão profundamente atual, indicando uma forma de responder teológica e praticamente à urgência, diante dos desafios por que passam a humanidade e o sistema Terra. Que essa reflexão estimule a continuação da pesquisa e possa se somar à luta de todos aqueles que buscam construir um mundo reconciliado, lugar do encontro teoantropocósmico e da dia-fania de Deus, origem, fonte e sentido de onde jorra todo mistério da vida.

Fonte: Instituto Teológico Franciscano

quinta-feira, 3 de abril de 2008

E a intolerância reina...

tolerância
atitude de admitir a outrem uma maneira de pensar ou agir diferente da adotada por si mesmo

"Dir-se-ia qie fizemos voto de odiar os próprios irmãos, porque temos religião suficiente para odirar e perseguir e não a temos suficiente para amar e ajudar".
Voltaire


Quando criei o blog - profundamente motivado por um desejo de compreensão das diversas maneiras de experimentar e expressar a religiosidade e a experiência com o sagrado - fui buscar em alguns livros e também na internet textos de referência, artigos, reportagens e postagens de outros blogs sobre o assunto.

Não foi difícil encontrar material de qualidade e credibilidade, além é claro, de textos carregados de respeitabilidade, tolerência e também de verdadeira amabilidade para com a multifacetada realidade religiosa. Alguns destes textos foram ou ainda serão postados aqui neste blog, pois reconheço que contribuíram (ou contribuirão) significamente para a construção de uma culturza de paz.

No entanto, o que salta aos olhos (infelizmente) é a imensidão de material agressivo, fundamentalista, preconceituoso e beligerante. Pessoas extremamente mobilizadas para hostilizar o que é diferente, sejam igrejas, religiões, preceitos, ritos, costumes, sem ao menos darem-se ao trabalho de conhecer minimamente suas matrizes, histórias, fundamentações, práxis, espiritualidade.

E talvez seja mesmo por esse motivo - por não conhecer, por não querer conhecer, por ignorar deliberadamente -, que tanta gente se empenhe em não reconhecer a dignidade e o direito da expressão religiosa alheia, especialmente quando essa expressão se apresenta muito "estranha" à sua ortodoxia feroz.

Não é necessário muito tempo de pesquisa nos sites de busca para encontrarmos as mais variadas manifestações de intolerância e de ódio às religiões. Atualmente não só as minoritárias: Candomblé, Umbanda, Espírita, etc. (só pra ficarmos em alguns exemplos do Brasil), mas também o Islamismo, o Budismo e o Hinduísmo. Tenho me deparado com alguns absurdos como ainda generalizar a associação da macumba (como obra de feitiço) com o Cambomblé e da prática do terrorismo com o Islã, por exemplo.

Sou protestante. Não creio em tudo o que as outras religiões professam. Tenho minha identidade religiosa. Tenho minha história e minha caminhada espiritual em curso e não abro mão dessas experiências, pois fazem parte do que sou. No entanto, não posso deixar de crer que há verdades nas outras religiões. Verdades importantes que certamente contribuíram para a minha compreensão de Deus e do que é a experiência religiosa e especialmente, do que é ser gente.

Mas, mais do que tudo isso, meu esforço por tolerar e respeitar as diferentes manifestações religiosas, associado à minha (constante) formação espiritual - fruto daquilo que entendo como vontade do próprio Deus: "amar ao próximo com a mim mesmo" -, me impedem de tratá-las como menores, deficientes ou insuficientes. E devo dizer que essa é uma afirmação muito difícil pra mim mesmo, pois uma abertura para a discussão sobre a pluralidade religiosa reserva grandes desafios internos para qualquer pessoa, mas revela também uma riqueza ainda maior, aquela relacionada à tolerência, ao amor, à misericórdia, ao perdão e à convivência pacífica entre os povos.

E para aqueles que ainda não foram mobilizados pela força da condescendência, diz a Constituição Federal de 1.988, no seu artigo 5º, § V I: " É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias" .

terça-feira, 1 de abril de 2008

Cartilha promove reflexão sobre diversidade religiosa e direitos humanos


Lançada no dia 09 de dezembro de 2004 pelo então ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), a cartilha “Diversidade Religiosa e Direitos Humanos” foi o resultado de 18 meses de trabalho.
Contou com a colaboração de diversos segmentos religiosos (cristianismo, judaísmo, religiões afro-brasileiras, hinduísmo, islamismo, taoísmo, espiritismo, esoterismo, budismo, bahá´í, encantaria cigana, representantes indígenas etc).

O objetivo é promover uma reflexão sobre a liberdade religiosa e evitar que ela seja desrespeitada no Brasil. O material segue as orientações da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Constituição Federal e do Programa Nacional dos Direitos Humanos.

A necessidade de elaboração da cartilha surgiu do entendimento de que a liberdade religiosa é um dos direitos fundamentais do homem, e que sua violação tem provocado conflitos desde a antiguidade, seja no Oriente, seja no Ocidente. E que nem o Brasil, com sua diversidade cultural e étnica, está a salvo, como demonstram recentes e repetidos ataques sofridos por terreiros de umbanda e candomblé, em diversos estados do país.

Fruto de convênio entre a Secretaria Especial dos Direitos Humanos e o Centro Popular de Formação da Juventude – Vida & Juventude, a cartilha “Diversidade Religiosa e Direitos Humanos” tem 40 páginas e tiragem inicial de 25 mil exemplares. A distribuição é gratuita. Clique aqui para obter uma cópia.


Saiba mais sobre o ecumenismo.

Fonte: Igreja da Irmandade

Atlas mapeia religiões do mundo e traz panorama contemporâneo de suas influências

da Folha Online

Não é de hoje que as religiões têm grande influência na política, na história e a até mesmo na economia dos países. Pelo menos dois terços da população em mais de 80% dos países do mundo seguem alguma religião. Compreender essas crenças é essencial não só para entender a tensão étnica e o choque de culturas como também para preservar ou restabelecer a paz no mundo.

Esta é a proposta do "Atlas das Religiões", da Publifolha. O livro faz o mapeamento completo de todas as crenças em 192 países e discute o impacto, as divisões e os desafios contemporâneos das grandes religiões mundiais.

País a país, com mais de 50 mapas e gráficos coloridos, o título mostra como as religiões se disseminaram, sua influência por meio do rádio, da televisão, do trabalho missionário, da educação e das instituições bancárias; como se relacionam com os governos; como ajudam a amenizar os efeitos da pobreza; e que papel desempenham nos conflitos.

Do cristianismo aos movimentos religiosos mais novos (como a Igreja da Unificação e a Organização Brahma Kumaris), o volume traz informações completas sobre o número de praticante de cada uma das religiões no mundo inteiro, além de explicar as origens de cada uma delas. O título ainda apresenta dados sobre os ateus e os "indecisos", que não seguem nenhuma religião.

"O Atlas das Religiões" também aborda os conflitos e perseguições das crenças e aponta os novos desafios das religiões: igualdade entre os sexos, investimentos socialmente responsáveis e em causas ambientais e os movimentos ecumênicos.

O livro conta ainda com um capítulo especial sobre religião no Brasil, que mapeia as regiões do país onde há maior diversidade religiosa e explica como o catolicismo e o protestantismo se difundiram por aqui.

Autores

Joanne O'Brien atua há mais de 20 anos como redatora, pesquisadora e comentarista de assuntos religiosos. Também dirige a Circa Religion Photo Library, do Reino Unido.

Martin Palmer dirige a International Consultancy on Religion, Education and Culture (Icorec) e a Alliance of Religions and Conservation (Arc), ambas com sede em Manchester (Inglaterra). É também radialista da Bbc.

Entre os livros escritos por Joanne e Martin, incluem-se Religions of the World e Festivals of the World.


Informações extraídas

1 - Cristianismo: O cristianismo é a maior religião do mundo, com mais de 2,1 bilhões de seguidores e mais de 33 mil seitas. Um terço dos seres humanos pertence a alguma das seis grandes tradições cristãs.

1.1 - Tradições cristãs – % total de cristãos – 2006

  • Católicos – 49,5 %
  • Independentes – 19 %
  • Protestantes – 16,7 %
  • Ortodoxos – 16,7 %
  • Anglicanos – 3,6 %
  • Cristãos marginais – 1,5 %
1.2 – Catolicismo: A Igreja Católica é a maior das denominações cristãs, com mais de 1 bilhão.

1.3 - Independentes: Uma das tendências que despontam no cristianismo é a expensão dos movimentos independentes. Sempre houve a histórica tradição de membros de uma Igreja a deixarem por causa de divergências sobre autoridade, estrutura ou modo de vida e formarem outros grupos cristãos. 

Com o tempo, muitos desses se tornaram correntes dominantes, caso do luteranismo ou do metodismo, por exemplo. Os “independentes” de hoje seguem aquela tradição na busca de uma autoridade e de um estilo de vida adequados às crenças e, muitas vezes, à identidade cultural e étnica deles. Algumas seitas na periferia do cristianismo organizado mais convencional são chamadas de “cristãos marginais”. Contingente dos maiores movimentos independentes – 2006. 

Cerca de 19% de todos os cristãos são filiados a igrejas independentes – grupos que desenvolveram vida eclesiástica independente do cristianismo histórico organizado. Esse contingente passou de 348 milhões de fiéis em 1995 para quase 443 milhões em 2006.

  • Carismáticos das igrejas domésticas cristãs – 35,8 milhões
  • Batistas independentes – 27, 5 milhões
  • Pentecostais africanos independentes – 18,9 milhões
  • Carismáticos brancos – 17,5 milhões
  • Pentecostais brasileiros e portugueses – 15,9 milhões
  • Apostólicos africanos independentes – 13,5 milhões
  • Hindus que crêem em Jesus – 10,6 milhões
  • Africanos sionistas independentes – 10,1 milhões
2 - Islamismo: Há 1,34 bilhão de muçulmanos, ou 20% da população mundial. O islamismo é a religião oficial de 25 países.

3 – Hinduísmo: O hinduísmo é a terceira maior religião do mundo, com mais de 950 milhões de seguidores. Quase todos vivem na Ásia meridional, a maioria deles na Índia, onde são mais de 80% da população.

4 – Budismo: Mais de metade da população mundial vive em países nos quais o budismo é ou já foi dominante. Durante o século 20, o budismo foi mais reprimido do que em qualquer outra época. Os budistas constituem quase 6% da população mundial.


5 – Judaísmo: Há mais de 13 milhões de judeus no mundo, e mais de 5 milhões deles vivem em Israel.

5.1 – Onde estão os judeus: Participação dos países (%) na população judaica mundial – 2005

  • EUA – 40,5 %
  • Israel – 40,2 %
  • Outros – 5,1 %
  • França – 3,8 %
  • Canadá 2,9 %
  • Reino Unido – 2,3 %
  • Rússia – 1,8 %
  • Argentina – 1,4 %
6 – Siquismo: São 24 milhões de siques no mundo. Mais de 90% vivem na Índia, sobretudo no Punjab.

7 – Crenças Tradicionais: No mundo, há mais de 250 milhões de seguidores das chamadas crenças tradicionais. Existem também muitos que são membros de uma das grandes religiões e, ao mesmo tempo, continuam a manter crenças tradicionais locais.

8 – Novos Movimentos Religiosos: Novos movimentos religiosos são grupos religiosos ou espirituais não oficialmente reconhecidos como seitas nem Igrejas estabelecidas, mas a definição que se deve a dar a eles é dos temas mais controversos no campo dos estudos religiosos.

9 – Novos Começos: à medida que as religiões nativas se disseminaram, elas se fundiram com tradições encontradas pelo caminho. Outras tradições reviveram, criando novas identidades ou fortalecendo antigas.

10 – Indecisos e Descrentes: Mais de 10 % dos seres humanos dizem não seguir nenhuma religião. Muitos estão indecisos, mas alguns são ateus, que negam a existência de Deus. 


"O Atlas das Religiões"
Autoras: Joanne O'Brien e Martin Palmer
Editora: Publifolha
Páginas: 112
Quanto: R$ 32,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha

Fonte: Folha Online

Deus está em todo lugar... onde a solidariedade e o amor existem

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O Messias

A Paixão de Cristo, sob a perspectiva do islamismo, será mostrada no filme “The Messiah,” que alguns críticos já consideram a resposta muçulmana à “Paixão de Cristo” de Mel Gibson.

O filme, dirigido pelo cineasta iraniano Nader Talebzadeh, já ganhou um prêmio no festival de filmes religiosos de Roma, por gerar um diálogo de fé entre diferentes religiões.

“The Messiah” será adaptado para o formato de série de televisão, que deverá ser exibido na TV iraniana no segundo semestre deste ano.

Em entrevista ao site da rede de TV ABC, o cineasta falou sobre as principais diferenças entre o Jesus Cristo visto pelos olhos do islã e o Jesus através da perspectiva tradicional cristã.

Nader Talebzadeh disse que cristãos e muçulmanos conhecem o mesmo homem, o mesmo profeta e a mesma pessoa divina que foi enviada para o céu. Ele disse que o Corão enfatiza e questiona três pontos principais em relação a Jesus Cristo: o nascimento, o fato dele não ser considerado o filho de D’us e que Cristo não teria sido crucificado. E acrescenta que no resto “é o mesmo belo homem descrito no Novo Testamento, os mesmos sermões, os mesmos milagres e a mesma posição política”.

Via: ABC News



Fonte: Blog Coió Online

segunda-feira, 31 de março de 2008

Para uma prática do diálogo inter-religioso e da luta pela paz

a) Para uma atitude de pluralismo religioso

Viver o diálogo religioso em primeiro lugar dentro de mim mesmo pessoalmente, e dentro de minha própria comunidade, como uma atitude de querer escutar e aprender de outras religiões, estar aberto a conhecê-las, renunciar toda atitude de dogmatismo a priori, acolher criticamente as queixas contra nossa religião, reconhecer seus limites e pecados, e aceitar a possibilidade de uma revisão de meus esquemas “tradicionais”. Praticar pois, um diálogo religioso dentro de mim mesmo, de nossa comunidade, “intra-religioso” (Panikkar).

Estudar em minha comunidade (comunidade de base, círculo de estudo, paróquia, congregação) o tema do pluralismo religioso. Organizar um pequeno curso, oficina, ciclo de reuniões de estudos ou inclusive uma série de palestras públicas. Estudar o macroecumenismo e o diálogo religioso. Revisar a bibliografia sobre diálogo e pluralismo religiosos que oferece esta Agenda e ver qual destes livros podemos ler/estudar.

Ser capaz de orar em um templo de outra confissão, de rezar uma oração de uma outra religião.

Eleger uma religião (grande ou pequena) que é desconhecida para mim, e dedicar minha leitura particular, durante uns meses, em conhecê-la intelectual e cordialmente. Fazer Contatos com pessoas dessa religião, estabelecer uma relação de diálogo ou de trabalho (alguma atividade conjunta) e cultivar sua amizade.

Cultivar uma atitude de respeito e veneração em relação às demais religiões. Não pensá-las nunca mais como espaços “vazios de salvação”. Eliminar de nosso dicionário existencial palavras e conceitos como “paganismo”, “religiões naturais”. Fazer um esforço para erradicar de nós (inclusive em nossa oração pessoal e na oração litúrgica) toda forma de falar que ignore a existência de outras religiões, outras formas de ver a Deus, outras expressões do sentido da existência humana. Resolver decididamente a se sentir membro de uma comunidade humana universal, aberta, que tem em conta o pluralismo religioso e o valorize positivamente, que busca a comunhão de todos os seres humanos com Deus, porém sem destruir todos esses caminhos pelos quais Deus e os humanos têm se comunicado ao longo de milênios.

Contemplar a Deus, cada vez mais como “o Deus de todos os homens”, o Deus que saiu ao encontro de todos os povos e que se encontra com todos os humanos através das religiões dos povos.

Converter-me ao amor e ao Deus Pai-mãe universal, assumindo minha identidade de filho/a de Deus e irmão/a de todos meus irmãos e irmãs humanos, antes e por cima de toda identidade de pertença a uma religião concreta.

Entender minha missão (cristã ou de qualquer outra religião) como serviço à utopia do projeto de Deus, o que os cristãos chamam/chamamos “Reino de Deus”.

Valorizar positivamente todas as religiões. Aceitar sinceramente sua multiplicidade, não como um lamentável “pluralismo de fato”, mas como um pluralismo positivamente querido por Deus, “pluralismo de direito”, de direito divino.

Estar convencido de que todas as religiões são “verdadeiras”, têm sua verdade, são caminhos pelos quais Deus sai ao encontro; e de que são também todas humanas, e por isso limitadas e relativas, incompletas e com pecados históricos que as condicionam.

Renunciar a todo afã de proselitismo. Querer que os hindus sejam bons hindus, os mulçumanos bons mulçumanos, os cristãos bons cristãos e que todo homem e mulher seja santo no caminho religioso pelo quais Deus saiu ao encontro. Respeitar profundamente aos que com sinceridade dizem que não encontram a Deus.


b) Para uma prática do diálogo religioso

Fazer um elenco das presenças de outras comunidades religiosas que se encontram no nosso bairro, na cidade e nas cidades vizinhas.

Fazer que minha comunidade tome a iniciativa de “sair ao encontro” e ir visitar alguma comunidade ou instituição de outra religião.

Entrar de vez em quando em algum templo de outra religião, e participar em alguma de suas celebrações.

Reconhecer na prática que há outros livros sagrados: conhece-los, lê-los, acolhê-los, meditá-los, utilizá-los também em nossas celebrações.

Nos primeiros dias de janeiro fazer visitar às demais denominações de igrejas que compõem a família cristã e tratar de celebrar conjuntamente a “semana da unidade dos cristãos”.

Estabelecer relações (pessoais, grupais, comunitárias) com pessoas, grupos, comunidades, entidades de outras religiões. Fazer um esforço para que estas relações se estabeleçam e sejam positivas nos ambientes onde participo.

Organizar a partir de minha comunidade de religião, uma campanha de dialogo inter-religioso: Propô-lo primeiro às instâncias e grupos competentes, programar entre todos; visitas, diálogos, mesas redondas, atividades sociais de apoio a grupos necessitados e tentar chegar a fazer alguma vez alguma celebração inter-religiosa, que no futuro possa se converter num evento periódico.

Tomar os textos sobre PR desta mesma Agenda e fazer várias sessões de estudo com os mesmos.

Tomar o tema do PR como tema de estudo em minhas comunidade de religião.

Formar parte de comissões e organismos ou iniciativas ecumênicas, multi-religiosas, e ser nelas decidido partidário do diálogo e da aceitação do pluralismo. Conectar com as iniciativas internacionais de diálogo e cooperação inter-religiosa (ver tais iniciativas nesta mesma Agenda)

Fazer que se assuma o tema no grupo líder da comunidade humana na qual participo (bairro, centro de estudo, associação ou movimento, comunidade cristã, paróquia, congregação evangélica, comunidade educativa, círculo de amigos) e incentivar que se programem ações a esse respeito.

Ter uma assinatura individual ou coletiva de alguma revista que aborde o tema do diálogo e do pluralismo religiosos, no nível ou enfoque que mais nos seja adequado.

Praticar a “inreligionação”: aproximar-se seriamente à experiência religiosa de outras religiões, tratar de propiciar em nós mesmos um conhecimento experiencial profundo de outra religião, principalmente a que esteja mais próxima no ambiente no qual participamos, ou das grandes religiões da Ásia.

Estabelecer aquilo que se chama um “diálogo de vida”entre comunidades de distinta religião: diálogo que consiste na realização conjunta de ações de defesa da vida, de melhora de qualidade de vida no bairro, de atenção aos mais necessitados de nossa comunidade humana sem distinção de religião.


c) Para uma prática de luta pela paz

Fazer habitualmente em nossa comunidade ou grupo humano, análises de conjuntura da situação mundial, continental e nacional.

Refletir sobre a nova conjuntura mundial na qual as agravantes injustiças tradicionais se acrescentam agora uma nova consciência de tensões culturais e religiosas.

Fazer parcerias com associações que têm preocupações pacifistas em nossa cidade ou região.

Participar em campanhas e associar-se a instituições contra a tortura, pela defesa dos direitos humanos, pela defesa da natureza, pelo estabelecimento do tribunal penal internacional, pela assinatura e implementação do protocolo de Kioto.

Organizar em minha comunidade, grupo, bairro uma semana de reflexão-ação pela paz.

Ser decidida e explicitamente anti-imperialista, e militar a favor da democratização do mundo com uma atitude sempre em defesa dos que são excluídos, marginalizados ou submetidos a qualquer forma de injustiça.

Não desligar o tema do diálogo religioso do tema da paz e da justiça, e colocar a opção pelo Deus dos pobres como bússola de nossa posição no diálogo.


Tradução para o português: Pe. Luiz A Gomes Pinto Junior,sj (Ceará- Brasil)


Fonte:

Agenda Latinoamericana