quarta-feira, 15 de junho de 2011

TEOLOGIA DA IMPERFEIÇÃO



Há dois consensos entre as religiões: o ser humano foi criado por Deus e ele é inerentemente imperfeito. Logo, Deus criou um ser imperfeito.


Esta afirmação machuca, porque a religião não pode afirmar que Deus tenha feito algo menos que perfeito. A saída é introduzir o conceito do pecado, que “danificou” a obra perfeita de Deus. Calvino afirmou a corrupção total do ser humano pelo pecado, Aquino afirmava que restou no ser humano, depois da queda, algo de bom. Pelágio dizia que nascemos sem pecado, mas que o convívio social é o que nos corrompe. Armínio acreditava que o ser humano ficou com o livre arbítrio. São posições que tentam explicar o problema.


A questão permanece: se somos imperfeitos, por que as religiões pregam a necessidade de uma vida perfeita, santa e santificada ou seja lá o que preguem, como essencial para agradar a Deus? Se somos imperfeitos, por que se acredita e prega que Deus só usa os bons, os certinhos, os ascéticos ou reclusos?


Quando estudamos a vida espiritual dos modelos espirituais que as religiões difundem, se percebe, se se lê com um mínimo de espírito crítico, que há um processo de heroicização destes personagens, mostrando como tiveram vidas austeras, como se negaram aos prazeres, como se mortificaram, que tiveram períodos de santidade plena. A história destes “santos” é uma galeria de gente anulada.

No entanto, quando se busca com mais cuidado algumas informações sobre estes “heróis da fé”, vamos perceber gente tão imperfeita como todos nós. No terreno bíblico se tem Abraão, pusilânime diante das pressões da esposa Sara; Jacó, o enganador; Moisés, desobediente e inseguro de sua liderança; Davi, adúltero e assassino; Salomão, megalomaníaco; Jonas, desobediente e omisso; Jeremias, lamentador; Pedro, emocionalmente instável e dissimulado; Paulo perseguidor da Igreja e com espinho na carne.


No campo extrabíblico tem-se o Lutero com angústias quanto à sua fé, Aquino que chegou a duvidar da ressurreição de Jesus, Madre Tereza de Calcutá que pediu em 1953: "Por favor, reze por mim para que não estrague a obra d'Ele e que Nosso Senhor possa se mostrar ... pois há uma escuridão tão terrível dentro de mim, como se tudo estivesse morto ... tem sido assim mais ou menos desde que dei início à obra."; "tão profunda ânsia por Deus e ... repulsa ... vazio ... sem fé ... sem amor ... sem fervor. Salvar almas não atrai ... o céu não significa nada ... reze por mim para que eu continue sorrindo para Ele apesar de tudo." Em 1959 ela escreveu: "Se não houver Deus, não pode haver alma, se não houver alma então, Jesus, você também não é real."


Isto me faz recordar a resposta de Deus a Paulo que insistia em pedir que sua fraqueza fosse tirada (o tal do espinho na carne): “o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.” (II Co 12:9)


Deus, no exercício de sua soberania e poder, não precisa de coisas e pessoas certinhas para fazer sua obra. Isto o afirmou Paulo: “temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.” (II Co 4:7) e o motivo é básico: se Ele só pode usar o que é santo e perfeito, a glória será dividida com o “parceiro na santidade e perfeição”, o ser humano. Se ele usa o fraco, o débil, o pecador, e o torna instrumento da sua graça, a glória é dEle.


Dr. Marcos Inhauser


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terça-feira, 29 de março de 2011

Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial - 21 de março




Mensagem de Irina Bokova, Diretora-Geral da UNESCO, por ocasião do Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, 21 de março de 2011


O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. O Dia internacional pela Eliminação da Discriminação Racial de 2011 é uma oportunidade para todos renovarmos o compromisso de defender e promover esta ideia fundamental.

A Convenção Internacional sobre a Eliminação da Discriminação Racial tem sido aceita quase universalmente pelos Estados, mas a necessidade de lutar contra a discriminação continua forte como sempre. O mundo está mudando diante de nossos olhos. A humanidade está mudando mais do que nunca. As sociedades estão se tornando mais complexas. A diversidade não é uma opção, mas uma realidade em todo o mundo. Porém, o aumento da proximidade não se traduz em maior entendimento. Em muitos países, indivíduos e comunidades ainda sofrem as injustiças do racismo.

A discriminação racial é um estreitamento do mundo, que reduz nossa humanidade e obscurece a realidade do nosso destino comum. Ela cria as bases para tensões e desconfianças que levam a conflitos. Há muito em jogo. O tecido da sociedade é facilmente rasgado, e muito difícil de ser remendado.

Tolerância não basta. A aceitação passiva da diferença não é suficiente. A igualdade em dignidade e direitos de cada indivíduo deve ser mantida como ponto de partida para todas as ações, e ser a medida do seu sucesso. Para tanto, é necessário um diálogo baseado no respeito. É preciso entender a riqueza que a diversidade nos traz. Isso significa que todas as vozes devem ser ouvidas, e todos os indivíduos devem ser incluídos.

A UNESCO foi criada para promover os princípios democráticos de dignidade, igualdade e respeito mútuo dos homens e mulheres por meio da cooperação internacional nas áreas de educação, ciências, cultura e comunicação. A UNESCO visa eliminar a discriminação racial, promovendo o conhecimento e o entendimento como base de melhores interações, diálogos e respeito. Estas metas sustentam todas as nossas atividades.

Durante este Ano Internacional dos Afrodescendentes (2011), a UNESCO leva adiante seu trabalho sobre a história das Rotas de Escravos, aprofundando o apoio à educação em direitos humanos.

A Coalizão de Cidades da UNESCO contra o racismo é um exemplo de ação inovadora contra a discriminação em um mundo cada vez mais urbano. Graças à coalizão, grandes cidades em todos os continentes estão criando programas que promovem o entendimento entre culturas, buscando incluir todos os indivíduos na vida da comunidade.

Eventos diários mostram que dignidade e igualdade ainda são aspirações das pessoas em todo o mundo. O Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial de 2011 é uma oportunidade de renovar nossos esforços para proteger os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Estas são as bases para sociedades saudáveis e Estados fortes.

Estes são os alicerces para uma paz sustentável e o desenvolvimento no século XXI.

Irina Bokova

segunda-feira, 28 de março de 2011

Teólogo da libertação José Comblin morre aos 88 anos na BA

27 de março de 2011 • 15h44 • atualizado às 16h46


O sacerdote belga José Comblin, um dos mais importantes representantes da Teologia da Libertação e que chegou a ser expulso do Chile e do Brasil por suas ideias, morreu neste domingo, aos 88 anos, na Bahia por causas naturais, informaram fontes eclesiásticas. Comblin, um estudioso da Igreja da América Latina e autor de obras como Teologia da Libertação e Ideologia da Segurança Nacional, morreu na cidade de Simões Filho, onde lecionava um curso na comunidade de base.

O sacerdote, que tinha problemas cardíacos e usava marca-passo, foi encontrado morto no quarto no qual estava hospedado por outros religiosos que o esperavam para a oração matinal e que estranharam sua demora. O corpo do religioso belga será velado neste domingo em Salvador e sepultado na Paraíba, segundo seus desejos, disseram porta-vozes da Arquidiocese de Barra, onde residia.

Comblin foi um dos seguidores e principais assessores do bispo brasileiro Hélder Câmara, o defensor dos Direitos Humanos e da opção da Igreja pelos pobres que chegou a ser conhecido durante a ditadura brasileira como o "bispo vermelho".

quarta-feira, 9 de março de 2011

Cinzas




Tem dias que perco a fé na humanidade. Hoje é um desses dias. E que não venham os crentes chatos de plantão me dizer que devemos é ter fé somente em Deus, do contrário muitos deles não teriam crido nas promessas feitas pelos futuros cônjuges no altar, ou qualquer outra situação em que envolva o empenho da palavra e a colocação do caráter à prova. Imaginem vocês um mundo sem confiança mútua, seria um inferno. Aliás, essa é pra mim uma boa definição de inferno: um mundo pleno de desconfiança, de eterna suspeita e temor de ser enganado. Tão ruim quanto seu oposto: a confiança cega, sem limites em outrem. O fato é que acreditamos sim, nas pessoas. E isso significa que colocamos, em maior ou menos medida, nossa confiança nelas, ou seja, botamos fé nos outros, assim como deles esperamos reciprocidade.

De qualquer forma hoje acordei sem fé nas pessoas, assim como sei que algumas também acordam sem fé em mim. Ponto pacífico, já que vez ou outra eu mesmo desconfio das coisas que penso e faço. Acontece que eu sei que ela, essa intrusa, vai voltar e me convencer a crer novamente, mas por hoje o que fica é a descrença nas atitudes, intenções e discurso dos outros. Portanto, calma. Não se preocupe comigo, porque daqui a pouco voltarei a crer nas pessoas, mas numa boa medida, o suficiente pra não me iludir com a idéia de que será a própria humanidade a única responsável por dar conta de ordenar e transformar o mundo. Acredito que todos temos um pouco de responsabilidade em tornar o mundo menos pior, ou no mínimo suportável, o resto é por conta de Deus e de sua graça.

Por isso mesmo não acredito (assim como Luiz Felipe Pondé* em seu mais novo livro Contra um Mundo Melhor), em gente muito justa, correta, honesta, humilde e ética, porque sei que por de trás delas há seres humanos de verdade: injustos, mentirosos, obscuros, cheios de si, claudicantes. Essa gente adora criticar seus governantes e representantes públicos, especialmente deputados com alguma evidência ou prova de malversação de dinheiro público, outro tipo de gente igualmente justa, correta, honesta, humilde e ética, pelo menos diante das câmeras, como todos nós. Não vou gastar meu tempo hoje falando deles. Quem sabe outro dia, em breve. As críticas, cabíveis e oportunas na maioria das vezes (pobres deputados), são feitas por quem também dá um jeitinho de levar o seu, seja burlando a Receita Federal omitindo ou falsificando dados, não emitindo notas fiscais (ou as emitindo frias), embolsando indevidamente o reembolso de combustível ou de táxi (lembra aquela corrida que deu vinte reais e você pediu um recibo de cinquenta?).

As veementes condenações à morosidade de nossos nobres governantes partem também de pessoas honestas e trabalhadoras, que lutam muito na vida para construir suas casinhas, e que aproveitam a falta de fiscalização pra jogar o entulho da construção no terreno dos vizinhos, quando não às margens de vias públicas, ou na sua calçada, leitor. Desde a respeitável dona de casa, mãe de família e evangélica fervorosa – que joga seu precioso lixo por aí, indiscriminadamente –, até aos promissores garotos ricos e bem educados em colégios particulares – arremessando da janela de seus carros caros latinhas de energético que acabaram de misturar em seu Black Label –, o ser humano demonstra uma faceta cruelmente real sobre si mesmos: quem não é objeto de nosso afeto não é digno de nosso respeito. Não importa quem você seja, nem o que faz, se não é do rol de membros ou da galera mais chegada não tem porque ser considerado. Ou você suja a casa do seu tio do coração, quase pai, com suas porcarias diárias? Também vai aos jogos com sua gangue pra espancar seu irmão, primo ou melhor amigo por serem eles tão somente torcedores do time rival, ou porque decidiram se relacionar com meninos? Essa verdade não é marca de nosso tempo, como eu imaginava há tempos atrás ou como querem muitos por aí que se aventuram a diagnosticar o cotidiano. É constitutiva do ser humano, "homo homini lupus" (se você, crente chato de plantão descobrir que essa expressão está num livro chamado O Leviatã, procure saber do que se trata antes de me amaldiçoar).

Voltando àquela gente justa e ética que passa horas versando sobre a falta de ética dos homens públicos, mas não tem a capacidade de se olhar no espelho por alguns segundos, quero dizer que são os mesmos que não se importam em furar fila, mentir a idade, falsificar a assinatura pra receber benefício de gente que já morreu, roubar livros de bibliotecas públicas, não devolver o DVD na locadora (e vendê-lo mais tarde em um sebo qualquer), roubar o sinal da TV por assinatura do vizinho, a água ou a energia elétrica das fornecedoras, ouvir música em celular de 80 reais sem fone de ouvido, sentar nas poltronas demarcadas para idosos, deficientes físicos e mulheres grávidas nos ônibus e fingir estar dormindo só para não ter que dar lugar à eles, estacionar em vaga de deficiente no shopping alegando que não há tantos deficientes assim dirigindo, ou que a paradinha vai ser rápida, parar em fila dupla para pegar seu esforçado filho na escola ao passo que amaldiçoa o prefeito por não melhorar o trânsito das cidades, ignorar que seus insignificantes papéis de bala entopem os bueiros agravando as inundações em tempos de fortes chuvas. A lista é grande e as coisas que você faz cabem muito bem nela. Cabe perguntar, como fez o roqueiro Dinho Ouro Preto: o que você faz quando ninguém te vê fazendo, ou o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver?

Essa gente justa e ética, também trabalhadora e contribuinte adora o gostinho do mando e do desmando, especialmente quando seu pequeno poder vem acompanhado de um objeto que o simboliza, como uma arma, uma bata e um estetoscópio, uma assinatura em um documento importante, um uniforme – nem que seja um terno preto barato de segurança de supermercado, prontamente disposto a espancar o negrinho de boné e bermuda que entrou no setor de eletrônicos. E isso nos mostra outra verdade sobre nós mesmos: estamos todos permeados por nossas mesquinharias diárias, acreditando que o universo conspira a nosso favor, enquanto embriagados, urinamos nas ruas da cidades num dia qualquer de carnaval, adiando o quanto podemos a ressaca da quarta-feira de cinzas – ou uma ressaca maior e de proporções duradouras, como por exemplo a chegada de um bastardozinho, fruto das besteiras que cometemos, e herdeiro tão somente da nossa miséria moral. Antes que você me julgue eu não sou contra o carnaval ou festas populares. Afinal, é preciso se desligar do mundo de vez em quando para sobreviver à ele, como fazem os evangélicos e carismáticos, com suas festinhas particulares, digo, retiros espirituais.

Hoje é quarta-feira de cinzas, e eu me dei o direito de desacreditar (ainda que por um tempo) na humanidade, em você, e também e por que não, em mim mesmo? Sábio foi Paulo, o Apóstolo, quando disse: miserável homem que sou! (Romanos 7, 24). Ainda assim, dou graças.


Alexandre Gonçalves

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Batistas se comprometem com proteção do planeta



Durante a 91ª Assembleia da Convenção Batista Brasileira (CBB) os batistas brasileiros aprovaram a “Carta de Niterói”, documento por meio do qual assumem uma posição clara em prol da preservação da criação de Deus. Leia a íntegra do documento:

Carta de Niterói

Nós, batistas brasileiros, reunidos na cidade de Niterói (RJ), em janeiro de 2011

CREMOS que

o Universo e o ser humano foram criados por Deus para a sua glória;
a vida e o Universo, em todos os sentidos, foram dados ao ser humano como um presente de Deus;

o Universo foi dado ao ser humano para a sua morada, sustento e para o desenvolvimento de sua história de vida;

o ser humano foi criado como um ser livre, mas, ao mesmo tempo, dependente da soberania de Deus;

Deus delegou ao ser humano a gestão sábia, criativa e sustentável de sua vida e da natureza;

depois da queda e rebeldia após a criação, o ser humano desvirtuou-se dos propósitos divinos da criação e passou a gerir sem sabedoria a sua vida e a natureza, sem se preocupar com a sua sustentabilidade;

que o Evangelho de Jesus Cristo traz não somente a restauração espiritual do ser humano, mas uma nova vida e esperança à humanidade;

que os ideais do Evangelho de Jesus Cristo recuperam os ideais originais da criação reconciliando-a com o Criador.

Neste sentido, DECLARAMOS que

ao longo da história, o ser humano ultrapassou os limites da gestão sustentável da natureza e que, por conta dessa atitude, o Planeta Terra está em perigo;

já não é possível mais o ser humano continuar a ser um consumidor da realidade, da vida e do Planeta Terra;

os dilemas ambientais e ecológicos não afetam apenas o cosmos, mas também a natureza humana e, neste sentido, o ser humano como um micro-cosmo também tem prejudicado a sua saúde física, mental-emocional, social e espiritual pelo inconsequente e imediatista estilo de vida adotado;

os cristãos, em geral, têm se preocupado mais com a redenção espiritual do ser humano, nem sempre considerando o ser humano e a vida em todos os seus aspectos.

Por fim, CONCLAMAMOS que

os cristãos de toda a Terra busquem compreender que o Evangelho todo é para todo o ser humano e para o ser humano todo, incluindo a sustentabilidade da vida humana e da natureza;

cada ser humano assuma o compromisso de cuidar com sabedoria, criatividade e sustentabilidade de sua vida, de seus relacionamentos e da natureza;

os empresários assumam o compromisso de participar da preservação do ambiente em seus mais variados aspectos – social, ecológico, distribuição justa de bens e oportunidades para todos;

os empreendimentos imobiliários sejam planejados e executados de modo a preservar o meio ambiente e a transformar o Planeta Terra numa habitação segura para a vida humana;

que a educação ambiental e para a vida seja incluída na formação do sujeito histórico desde a sua infância em nossa Nação.

as autoridades governamentais, em todos os níveis, lutem contra a inépcia, a corrupção, o imediatismo, estabelecendo legislação sábia, séria e respeitosa à vida humana, à preservação e ocupação do meio ambiente;

as autoridades assumam com seriedade o papel de agente fiscalizador do uso sustentável da natureza de modo a preservar também a vida humana, evitando assim os desastres ambientais como os que ultimamente temos sofrido.

Tudo isto para que conquistemos a VIDA PLENA E O MEIO AMBIENTE.

Niterói (RJ), 91ª Assembleia da Convenção Batista Brasileira, 25 de janeiro de 2011

Comissão da Carta de Niterói

Mere Márcia Prado Bello
Norton Riker Lages
Lourenço Stelio Rega (relator)


Fonte: Vida e Meio Ambiente

"Tolerância religiosa no Brasil não é herança holandesa"



Católicos, protestantes e judeus convivendo e trabalhando juntos, com mais liberdade de culto. Assim descreve o Brasil holandês o pesquisador Evan Haefeli, professor assistente da Universidade de Colúmbia (EUA).

“O Brasil tem um lugar muito especial na história da tolerância, porque antes da Revolução Francesa era o único lugar no mundo onde protestantes, católicos e judeus viviam suas crenças, mais ou menos abertamente.”

Primeira sinagoga das Américas
Um dos maiores exemplos dessa tolerância ainda pode ser visto: está no Recife a primeira sinagoga das Américas, construída durante o período da ocupação holandesa no Brasil. “A construção da sinagoga abriu um novo mundo de oportunidades para que os judeus pudessem professar sua fé abertamente e não serem judeus convertidos ou cristãos novos”, explica Haefeli.

Segundo Haefeli, porém, a tolerância religiosa, vista por muitos até nossos dias como característica brasileira, não é uma herança do período holandês. Este processo de aceitação mútua já estava em curso desde antes da chegada de Maurício de Nassau, visto por alguns pesquisadores como o responsável pela implantação dessa política de tolerância.

“Isso aconteceu de duas maneiras. Primeiro, antes da chegada dos holandeses, não havia inquisição no Brasil de maneira regular. Havia algumas visitas de inquisidores, que chegavam para investigar um caso ou outro”. Por isso, e também pelas oportunidades comerciais, muitos judeus já viviam no Brasil português.

Interesses econômicos
Outro motivo destacado pelo pesquisador é que, antes dos holandeses, ainda que não houvesse uma política oficial de tolerância, os portugueses não pressionavam tanto os habitantes da colônia a adotar o catolicismo, como fizeram em outras partes do mundo.

“Nem todos gostavam de ter católicos, judeus ou protestantes como vizinhos, mas as circunstâncias econômicas e políticas forçaram essas pessoas a conviver, a coexistir, de um modo diferente do que aconteceu em todos os outros lugares do mundo”, explica Haefeli.

Tolerância holandesa e portuguesa
Os holandeses, que eram protestantes calvinistas, foram mais tolerantes com os católicos no Brasil do que eram em outras colônias ou mesmo na Holanda. Além disso, eles aceitaram alguns rituais de religiões africanas para a colheita, praticados pelos escravos que trabalhavam nas plantações de açúcar.

O professor explica que esses rituais, realizados publicamente, eram considerados fundamentais até mesmo pelos católicos donos dos engenhos. “Como a razão para os holandeses estarem em Pernambuco era o açúcar, controlar a indústria do açúcar, apesar de os ministros calvinistas reclamarem, nunca se fez nada para impedir a realização destes rituais”.


Holandeses no Brasil

Os holandeses invadiram o Brasil no século XVII, estabelecendo-se no Nordeste. O principal objetivo era controlar o comércio de cana-de-açúcar na região, um dos mais lucrativos da época. A ocupação durou 30 anos. O período mais conhecido foi o governo de Maurício de Nassau (1637-1644). A região conheceu o progresso econômico e social, ganhando ainda mais importância e prosperidade no cenário mundial.

Portugueses e holandeses tinham muitas diferenças. A religião era uma das mais fortes. Os holandeses, protestantes, ocuparam um território antes dominado pelos católicos portugueses. Porém, durante o período de ocupação, procuraram conviver de maneira pacífica com os demais credos.

Fonte: Embaixada do Brasil na Holanda



Igreja pede explicações ao Estado

Quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
ISSN 1519-7670 - Ano 15 - nº 626 - 25/1/2011

RELIGIÃO & POLÍTICA
Igreja pede explicações ao Estado

Por Ligia Martins de Almeida em 25/1/2011

Como se não bastassem as mortes na região serrana do Rio de Janeiro e as brigas entre seus principais aliados – PMDB e PT –, a presidente Dilma Rousseff agora vai ter que lidar com os questionamentos da igreja católica. Empossado como prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, o arcebispo de Brasília, Dom João Braz de Avis, cobrou uma definição da presidente em entrevista publicada na Folha de S.Paulo (19/1/2011):

"Não temos uma ideia clara de quem é Dilma do ponto de vista religioso. Ela precisa explicar melhor as suas convicções religiosas para que o diálogo possa progredir. O que sabemos é que Dilma mostrou flexibilidade com relação a temas importantes para a igreja. Mas também sabemos que políticos fazem isso: durante a campanha, é uma coisa e, na prática, o caminho às vezes é outro. Eu espero que as posições dela se aproximem das posições da igreja. Para isso, precisamos conhecer melhor o que pensa a Dilma presidente em relação a certos temas. Não só o aborto, que teve destaque na disputa eleitoral, mas também quanto ao PNDH-3 [Plano Nacional de Direitos Humanos], que traz posições contundentíssimas para a igreja. Há aspectos muito bonitos com relação à questão social, mas temos aborto, homossexualismo, um monte de coisa que precisamos ver como vai ficar."

Enquanto o religioso espera para ver como as coisas vão ficar, os jornais poderiam esclarecer que questões como legalização do aborto, união de homossexuais e outros temas tão caros à igreja independem da exclusiva vontade da Presidência da República. Qualquer modificação na lei referente ao aborto ou à união legal de homossexuais, por exemplo, passa por aprovação do Congresso Nacional.

Deveriaa imprensa esclarecer também que as atitudes da presidente – ou de qualquer presidente deste país – dizem respeito apenas ao Estado, assim como as decisões da igreja (católica ou qualquer outra) dizem respeito apenas aos seus seguidores. Como disse o próprio cardeal em sua entrevista, "a separação entre igreja e Estado foi uma conquista e representa uma grande vantagem democrática em relação ao passado, quando havia a imposição da religião sobre o Estado".

O papel de cada um

A entrevista de Dom João de Braz Aviz acabou repercutindo no jornal concorrente. Em artigo publicado domingo (23/1) no Estado de S. Paulo, Débora Diniz discute o tema sob o título "Quem tem medo da laicidade?":

"De minha parte, não preciso conhecer a fé religiosa de nossa presidente para acreditar na democracia. Ainda diferente de d. João, estou certa de que, se o ex-presidente Lula se apresentou como homem de Estado, a atual presidente poderá ir além: melhor será se somente conhecermos a mulher de Estado. Se a ela for conveniente expor suas crenças privadas em matéria religiosa, que esse seja um fato indiferente à vida democrática. Mas, honestamente, preferiria que Dilma fosse não apenas a primeira mulher presidente, mas principalmente, aquela que atualizasse o dispositivo da laicidade do Estado brasileiro... Não há incompatibilidade moral entre a mulher de fé e a mulher de Estado. Só elegemos a mulher de Estado."

Enquanto a presidente da República procura organizar seu governo e enfrentar as catástrofes (naturais e políticas), melhor seria se o cardeal católico e todos os outros líderes religiosos do país se unissem em oração ou trabalhassem efetivamente para ajudar as vítimas das enchentes por esse Brasil afora. Cabe à imprensa esclarecer aos leitores que cada um tem seu papel na democracia, noticiando, comentando e, sempre que necessário, destacando que Estado e igreja são coisas diferentes.

Se cada um – Estado, igreja e imprensa – fizer a sua parte, a democracia só tem a ganhar.


Fonte: Observatório da Imprensa

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ecumenismo e identidade aberta são muito importantes a todos os religiosos



Por: Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, em

Todo diálogo inter-religioso traz a exigência de verdadeiros e profundos diálogos interpessoais que, por sua vez, exigem, necessariamente, diálogos intrapessoais. Templos, Mesquitas e Terreiros não dialogam, mas sim os seres humanos que os constroem. Isso significa dizer que o percurso ecumênico ou macroecumênico é um itinerário implicativo para todos os atores envolvidos. Portanto, não é um caminho asséptico e nem isento de riscos. Se é verdade que todo diálogo autêntico reclama a identidade de cada sujeito envolvido é, igualmente, verdade que cada parceiro deverá trazer a disposição de alterar-se positivamente, a partir do contato com o diferente. O encontro com o "outro" (alteridade) provoca o deslocamento ecoico e a superação de enclausuramentos eclesiásticos que impedem as tradições religiosas de abrirem-se às outras leituras de fé e a uma compreensão mais profunda do mistério de Deus, que supera quaisquer falas sobre Ele, pois Deus é sempre maior!

Desse modo, a afirmação positiva do pluralismo religioso e da consequente liberdade de opção no campo da vivência da fé exigem um alargamento progressivo da consciência, um caminho de amadurecimento e de superação de barreiras externas e internas. Afirmar a identidade, condição para todo diálogo verdadeiro, não significa enclausurar-se narcisicamente em si mesmo, como se o outro nada acrescentasse ou alterasse. Não há, nessa perspectiva, maior prejuízo para o diálogo do que a recusa da identidade, e não há maior prejuízo para a identidade do que a recusa do diálogo. No encontro com o outro, cada tradição religiosa é chamada com mais intensidade a colocar-se diante de si mesma, percebendo com mais clareza suas luzes e sombras. O trabalho ecumênico, portanto, exige fôlego de bom caminheiro, disposição para singrar novos mares e abertura a novas e surpreendentes sínteses; exige, pois, uma identidade aberta, capaz de integrar positivamente alteridade e vulnerabilidade, rigidez e flexibilidade. Escreveu, de forma celebérrima, o então cardeal Joseph Ratzinger, atual papa Bento VXI acerca do caminho do diálogo:

"É um processo de abertura, de abrir-se para o diferente, para os outros. Procuremos imaginar a arte que é alguém saber escutar. Não se trata de uma habilidade, como o manuseio de uma máquina, mas sim de um poder ser, em que a pessoa é exigida como um todo. Ouvir significa conhecer e reconhecer o outro, deixá-lo penetrar no espaço do próprio eu (...) Após o ato de ouvir, eu sou outro, meu próprio ser foi enriquecido e aprofundado, por se haver fundido com o ser do outro, e, no outro, com o ser do mundo".

Assim como afirmou o filósofo Heráclito que ninguém pode banhar-se duas vezes no mesmo rio sendo o mesmo, assim também nenhuma tradição religiosa segue inalterada num processo de encontro e diálogo positivo com outras religiões. Desse modo, católicos, evangélicos, protestantes, candomblecistas, umbandistas, muçulmanos, judeus... todos , irremediavelmente, apresentamo-nos para o diálogo com nossas identidades, mas sem que percebamos que a simples presença e interpelação do diferente altera, surpreende e desbanca nossos absolutismos internos. Nesse caminho, afirmamos a presença desafiante do outro e experimentamos coletivamente a oportunidade sagrada de sermos melhores, mais autênticos, mais plurais e divinamente mais re-ligados.

Para concluir e confessar, posso testemunhar que, hoje, a partir do engajamento na Comissão de Combate a Intolerância Religiosa (CCIR), em que tenho a oportunidade de estabelecer vínculos de amizade e trabalho com a diversidade religiosa do Brasil, começo a desconfiar que não sou nem a mesma pessoa e nem tão pouco o mesmo cristão católico de outrora, graças a Deus!!!

Escrito por padre Gegê, pároco da Paróquia Santa Bernadete, membro do Fórum Dom Helder Câmara e da CCIR

Editado por Ricardo Rubim

Leia mais artigos em www.eutenhofe.org.br

Hackers da fé

Padre Zezinho


No dia 31 de dezembro passado, com evidente intenção de interferir na minha pregação de sacerdote católico, um hacker de formação evangélica ou pentecostal invadiu este meu site. Colocou lá uma mensagem da sua igreja, mensagem que, pelo conteúdo, pretendia dizer que minha pregação é idolátrica.

Julgou-me, invadiu propriedade intelectual minha, cometeu crime de preconceito religioso, fez crime digital e está sujeito a uma investigação que, devidamente autorizada pelo juiz, acabará no IP, endereço de onde saiu sua mensagem de hacker da fé. Talvez ele não saiba que existe uma DIGDEIC, delegacia de delitos cometidos por meios eletrônicos. Se tornar a fazê-lo será identificado. Por enquanto guardamos sua mensagem invasora.

Sugiro ao pastor desse moço, caso venha a saber quem é, que o oriente, primeiro quanto ao risco de ser preso, segundo, quanto à atitude de caluniar e ofender um sacerdote católico, invadindo o meu site, o que equivale a uma invasão do altar onde celebro e do púlpito onde prego. Seria crime inafiançável, por caracterizar-se como preconceito de religião.

Se o moço fez isso em nome de Jesus ou de sua igreja, desrespeitou os dois, porque Jesus certamente não abençoa nem assalto a mão armada, nem esse tipo de assalto intelectual e espiritual. E não creio que uma igreja séria apóie um crime dessa natureza, pois equivale a um ato de guerra religiosa. Ele ofendeu minha igreja, meus leitores e a minha pessoa. Não contente em discordar de mim, que tenho mais de 50 anos de anúncio da Palavra de Deus, invadiu meu lugar de pregação e postou no meu site mensagem com claro intuito de desmerecer a fé dos católicos.

Aviso a qualquer hacker da fé que se aventure por este desmiolado caminho de fé confusa, que outro talvez não tenha a minha paciência. Se a pessoa ofendida levar adiante a investigação, o piedoso hacker amargará dura prisão, porque no Brasil, tentar destruir a fé do outro invadindo seu lugar de pregação, pode se configurar crime inafiançável. Se o fanatizado hacker lê meu site, comece a preocupar-se. A equipe registrou sua invasão. Isso que ele fez não é nem nunca foi fé.

fonte: site do Pe. José Fernandes de Oliveira (Zezinho)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Campanha Nacional Contra a Intolerância Religiosa


Lançamento


Dia 23 de Janeiro de 2011 às 11h.

Local: Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade

Endereço: Praça Olavo Bilac. Nº 63. Campos Elísios. São Paulo. Próximo a Estação Marechal Deodoro do metrô (Linha Vermelha).

Participe desta mobilização!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ataque mata 21 em igreja no Egito e presidente acusa 'elemento estrangeiro'

01/01/2011

O presidente do Egito Hosni Mubarak disse em entrevista na televisão neste sábado, 1º, que o ataque a bomba à Igreja Cristã Copta tinha como alvo tanto cristãos quanto muçulmanos e "tem marca de elementos estrangeiros". Horas antes, logo após o atentado, o papa Bento 16 falou sobre a violência contra fiéis à Igreja. Ao menos 21 pessoas morreram e outras dezenas ficaram feridas com a explosão de um carro-bomba na cidade de Alexandria, região norte do país.

"Terroristas cruéis miraram a nação, coptas e muçulmanos", declarou Mubarak à TV estatal, acrescentando que os ataques falhariam nos planos de desestabilizar o Egito ou dividir católicos e muçulmanos. "Nos choca esse ato brutal. A mistura do sangue de muçulmanos e cristão é uma prova de que todo o Egito é o alvo deste terrorismo cego".

O governador de Alexandria, Adel Labib, "acusou a Al-Qaeda de planejar o ataque", segundo a TV estatal, sem dar outros detalhes. Conforme a emissora, as investigações sobre o atentado continuam.

Já o papa, no dia em que a Igreja Católica celebra o Dia Mundial da Paz, dedicou sua homilia de ano-novo à liberdade religiosa e à tolerância. "A humanidade não pode permitir se acostumar com a discriminação, injustiças e intolerância religiosa. Mais uma vez, faço um apelo (aos cristão em zona de conflito) que não se entreguem à resignação e ao desanimo", disse.

Segundo autoridades egípcias, a explosão ocorreu na área que tinha carros estacionados em frente à igreja e que possivelmente foi um atentado terrorista. Os fiéis haviam acabado de celebrar a missa de ano-novo na hora do ataque, logo depois da meia-noite.

Com o atentado, centenas de pessoas fizeram um protesto nas ruas próximas e, segundo testemunhas, arremessaram pedras contra muçulmanos. Durante a manifestação, veículos foram incendiado e a polícia usou gás lacrimogêneo para conter os cristãos. "Sacrificamos nossas almas e sangues pela cruz", gritavam os manifestantes. A explosão também danificou uma mesquita e feriu muçulmanos.

A população cristã representa 10% dos 79 milhões de pessoas que vivem no Egito, majoritariamente muçulmana, e as tensões entre as comunidades religiosas podem gerar ondas de violência.

fonte da notícia: Estadão com Reuters, AP e Efeinserido por: Noticias CONIC