quinta-feira, 3 de abril de 2008

E a intolerância reina...

tolerância
atitude de admitir a outrem uma maneira de pensar ou agir diferente da adotada por si mesmo

"Dir-se-ia qie fizemos voto de odiar os próprios irmãos, porque temos religião suficiente para odirar e perseguir e não a temos suficiente para amar e ajudar".
Voltaire


Quando criei o blog - profundamente motivado por um desejo de compreensão das diversas maneiras de experimentar e expressar a religiosidade e a experiência com o sagrado - fui buscar em alguns livros e também na internet textos de referência, artigos, reportagens e postagens de outros blogs sobre o assunto.

Não foi difícil encontrar material de qualidade e credibilidade, além é claro, de textos carregados de respeitabilidade, tolerência e também de verdadeira amabilidade para com a multifacetada realidade religiosa. Alguns destes textos foram ou ainda serão postados aqui neste blog, pois reconheço que contribuíram (ou contribuirão) significamente para a construção de uma culturza de paz.

No entanto, o que salta aos olhos (infelizmente) é a imensidão de material agressivo, fundamentalista, preconceituoso e beligerante. Pessoas extremamente mobilizadas para hostilizar o que é diferente, sejam igrejas, religiões, preceitos, ritos, costumes, sem ao menos darem-se ao trabalho de conhecer minimamente suas matrizes, histórias, fundamentações, práxis, espiritualidade.

E talvez seja mesmo por esse motivo - por não conhecer, por não querer conhecer, por ignorar deliberadamente -, que tanta gente se empenhe em não reconhecer a dignidade e o direito da expressão religiosa alheia, especialmente quando essa expressão se apresenta muito "estranha" à sua ortodoxia feroz.

Não é necessário muito tempo de pesquisa nos sites de busca para encontrarmos as mais variadas manifestações de intolerância e de ódio às religiões. Atualmente não só as minoritárias: Candomblé, Umbanda, Espírita, etc. (só pra ficarmos em alguns exemplos do Brasil), mas também o Islamismo, o Budismo e o Hinduísmo. Tenho me deparado com alguns absurdos como ainda generalizar a associação da macumba (como obra de feitiço) com o Cambomblé e da prática do terrorismo com o Islã, por exemplo.

Sou protestante. Não creio em tudo o que as outras religiões professam. Tenho minha identidade religiosa. Tenho minha história e minha caminhada espiritual em curso e não abro mão dessas experiências, pois fazem parte do que sou. No entanto, não posso deixar de crer que há verdades nas outras religiões. Verdades importantes que certamente contribuíram para a minha compreensão de Deus e do que é a experiência religiosa e especialmente, do que é ser gente.

Mas, mais do que tudo isso, meu esforço por tolerar e respeitar as diferentes manifestações religiosas, associado à minha (constante) formação espiritual - fruto daquilo que entendo como vontade do próprio Deus: "amar ao próximo com a mim mesmo" -, me impedem de tratá-las como menores, deficientes ou insuficientes. E devo dizer que essa é uma afirmação muito difícil pra mim mesmo, pois uma abertura para a discussão sobre a pluralidade religiosa reserva grandes desafios internos para qualquer pessoa, mas revela também uma riqueza ainda maior, aquela relacionada à tolerência, ao amor, à misericórdia, ao perdão e à convivência pacífica entre os povos.

E para aqueles que ainda não foram mobilizados pela força da condescendência, diz a Constituição Federal de 1.988, no seu artigo 5º, § V I: " É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias" .

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