sábado, 31 de janeiro de 2009

Lançado Guia de Luta Contra a Intolerância Religiosa e o Racismo

001 Por Maiá Menezes – O GLobo

RIO - Reunidos nesta quarta para o lançamento do Guia de Luta Contra a Intolerância Religiosa e o Racismo, representantes de várias religiões e denominações religiosas abriram o encontro, no Teatro Odeon, no Centro do Rio, com um minuto de silêncio pelos nove mortos no acidente na sede da Igreja Renascer, em São Paulo. O guia, que será distribuído por enquanto a policiais e casas religiosas no Rio, orienta a aplicação do artigo 20 da Lei Caó, que prevê penas de até cinco anos para crimes de racismo e intolerância religiosa. O guia fornece ainda endereços de auxílio para vítimas do crime. Há, no Rio, quinze casos de intolerância sendo assistidos pela ONG Projeto Legal - 70% deles referentes a crimes contra fiéis de religiões de origem africana.

O ministro interino da Igualdade Racial, Eloy Ferreira, defendeu a criação de delegacias especializadas para cuidar dos crimes de intolerância.

- O encarceramento apenas não resolve. É preciso mudar os valores - disse o ministro, em coro com representantes da Igreja Católica, do candomblé, dos presbiterianos e dos judeus.

- A cartilha é um dos passos fundamentais para que a sociedade perceba que é preciso lutar contra a intolerância. Quando você fica omisso, pode ser atingido. Quem se cala será atingido mais cedo ou mais tarde - disse Sérgio Niskier, presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro.

O padre Fábio Luiz, da comissão de ecumenismo e liberdade religiosa da Arquidiocese do Rio de Janeiro, afirmou que o guia "será uma verdadeira arma para construir a paz e a união".

- A Igreja Católica deseja de fato que caia todo tipo de intolerância religiosa - disse.

Autor da cartilha, o coronel Jorge da Silva, professor da Uerj e ex-secretário estadual de Direitos Humanos, afirmou que a cartilha ajuda os policiais e cidadãos comuns a se afastarem de um risco usual: o de minimizarem os casos concretos de discriminação. Já o policial civil Henrique Pessoa, representando a chefia da Polícia Civil, afirmou que o projeto do estado é resgatar um "déficit histórico" dos policiais com a religiões de matriz africana - principal alvo de intolerância.

Presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, Ivanir dos Santos afirmou que é hora de mudar a cultura em relação à tolerância religiosa "antes que as futuras gerações paguem o preço".

Fonte: O Globo

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Rezemos pela paz no Oriente Médio



Rezo para que dois povos possam viver em paz em dois estados livres, independentes e democráticos.
Rezo para que não tenhamos que lamentar mais vítimas.
Rezo pela integridade do ser humano, seja criança, adolescente, adulto ou idoso.
Rezo pelo silêncio dos canhões.
Rezo pelo entendimento.
Rezo pela sabedoria das autoridades palestinas e israelenses.
Rezo como resposta pacífica aos meus sentimentos de tristeza e impotência.
Rezo pelos povos.
Rezo pela paz.
Na lingua hebraica nos cumprimentamos dizendo Shalom.
Em árabe as pessoas se cumprimentam dizendo Salam.
Dois povos com uma mesma origem, com histórias de afetos e desafetos, com uma rica cultura, uma história admirada pela humanidade toda, mas com um conflito que todos repudiamos.
Sou contra o fundamentalismo e o terrorismo, sou contra os que enviam os seus filhos ao martírio, sou contra os que não respeitam a santidade da vida, sou contra a guerra, pois não existem vencedores nem vencidos.
Shalom tem a mesma raíz da palavra Shalem - que significa plenitude.
Ter PAZ é ser Pleno, e ser Pleno é ter a PAZ.
Rezemos juntos pela PAZ.

SHALOM- SALAM!
Fonte: Blog das Religiões

Um dia de baiana

Por Clarissa Monetagudo - Jornal Extra


"Uma moça tão estudada como a senhora não pode estar usando uma roupa de macumbeira dessas, que vegonha!" Sentada em um banco da Central esperando o trem para Japeri, uma senhora olhava para as minhas roupas brancas fazendo um muxoxo. Eu, que estava "dando pinta" de candomblecista há pelo menos 40 minutos na plataforma, decidi sentar ao seu lado para testar sua reação. Conversa vai, conversa vem, ela me mostra a foto dos netos, e quando se sente íntima, me brinda com o comentário. Não entendia como uma moça "tão bacana, que falava tão bem", se vestia tão mal, como uma macumbeira.

Sem saber, a velhinha resumiu o que senti nos olhares da minha vizinha, do meu porteiro, da moça da farmácia, dos motoristas do jornal e de todos que me viram naquele dia chegando de saia e bata branca, colar de búzios - tudo comprado em umas férias nas terras de "São Salvador". Um susto. O visual tinha sido improvisado para que eu me sentisse invisível perto do grupo de belas sacerdotisas do candomblé que eu acompanharia nesse dia.

Minha pauta era flagrar reações de intolerência às religiões afro-brasileiras em um passeio pela cidade. E eu precisava estar no meio do grupo, despercebida. Cheguei à conclusão que vestir trajes de baiana nas ruas do Rio de Janeiro, cidade que aplaude todos os anos a passagem dessas senhoras de hipnotizantes saias rodadas no Carnaval faz com que a gente se sinta mais estrangeira do que uma japonesa de quimono e chinelinhos fazendo tlec-tlec no assoalho. Foi assim que me senti ao acompanhar as meninas do Candomblé em uma passeio pelo Largo da Carioca, Central do Brasil e um shopping na Tijuca.

Na Central, ganhei um cheque do Banco de Jesus de um religioso, que foi correndo atrás de mim para afirmar que "Jesus me ama". O valor do cheque é alto: "Sua Alma", e está assinado por Jesus e tudo. Algumas pessoas sussurravam "tá amarrado" no meu ouvido. Outros só olhavam mesmo, o que já causava um constrangimento. Também vi que é injusto generalizar o preconceito como sendo "coisa de evangélico". Muitos evangélicos foram muito gentis comigo durante todo o dia, inclusive alguns senhores que pregavam no trem.

No shopping, vendedoras de uma joalheria quase fizeram o sinal da cruz ao nos ver passar. A vizinha, no elevador do prédio, não levantou os olhos para me encarar. Lembrei que uma amiga meio barraqueira do segundo grau não hesitaria em perguntar: "Vem cá, tô pintada de verde?". Mas eu não perguntei. Apenas concluí o quanto são corajosas essas pessoas que mantém as tradições africanas contra tudo e todos. Que agüentam nas costas o peso de séculos de discriminação. Eu, que sempre amei as músicas de Caymmi e os livros de Jorge Amado, e preciso ir pelo menos uma vez por ano à Bahia, passei a ser ainda mais fã, mais apaixonada pela cultura africana e seu povo. É o povo do santo. Povo brasileiro. E merece nosso respeito.

Reportagem especial do Jornal Extra

Famílias se distanciam quando o preconceito religioso se torna uma barreira para a convivência doméstica



Por Clarissa Monteagudo - Extra

RIO - A dona-de-casa Dulcinéia dos Santos, de 45 anos, não foi ao casamento de dois de seus cinco filhos. Jamais conversa com as noras e só conseguiu pegar a neta no colo uma vez, porque a encontrou por acaso na rua. Tamanha indiferença não foi causada por nenhuma briga ou disputa familiar. A intolerância religiosa desatou todos os laços que uniam a mãe aos filhos. Candomblecista, ela se magoa ao lembrar que a mulher de seu filho a acusa de carregar "77 demônios" por pertencer à religião de matriz africana.

- Ela diz que se eu for à casa dela, deixarei um demônio lá. Se a menina ficar doente, a culpa é minha. São mentes atrasadas, eles repetem o que escutam na igreja deles. Criticam porque não conhecem. Nossa religião não é macumba nem feitiçaria. - afirma a dona-de-casa.

Dulcinéia se iniciou na religião, por amor ao filho mais jovem que ficou doente de forma repentina. Condenado pela medicina tradicional, o garoto ficou curado dentro de um barracão de candomblé. A conversão lhe custou os mais velhos.

- No Natal e no meu aniversário, não recebo nenhum telefonema. Às vezes, minha neta acena para mim da janela. Ela nem me reconhece como avó. Meu maior sonho é recuperar minha família - desabafa Dulcinéia.


Pânico e trauma

Joana (nome fictício), 44 anos, também é mãe e sofre como Dulcinéia. Mas seu problema não é a distância da filha, de 11 anos. Mas o problema de saúde da menina, que sofre de síndrome do pânico desde que o pai a levou para uma cerimônia de exorcismo.

Na época do casamento, Joana tinha a mesma religião que o marido. Após a separação, um grupo de religiosos invadiu sua casa para "retirar o demônio". Ela os expulsou. Mais tarde, tornou-se umbandista e sua filha passou a fazer parte de um grupo de evangelização de um centro kardecista. O pai decidiu "exorcizá-la".

- Minha filha acorda gritando e tem pesadelos. Ela ficou traumatizada porque o grupo de religiosos gritava pelo "capeta" com as mãos na cabeça dela. Na época da separação, também disseram que eu estava endemoniada, mas eu não podia delatar, porque era da religião e não podia levar "irmão em juízo" - diz Joana.

A partir deste ano, denunciar crimes de intolerância, como o vivido pela família, ficará mais fácil. A secretaria especial de políticas de promoção da igualdade racial firma uma parceria com o Ministério da Justiça para criação de delegacias especializadas em intolerância religiosa e crimes étnico-raciais no País. O objetivo é potencializar a unidade de São Paulo, que já existe, e implementar ainda esse ano no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.


Novas delegacias

Nas delegacias, trabalharão policiais especialmente treinados para identificar todo tipo de ofensa. E também psicólogos e assistentes sociais que possam ajudar nos casos. A secretaria trabalha na elaboração de uma lei específica sobre intolerância para apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo é que ele apresente o projeto de lei no Congresso Nacional.

- O preconceiuto é pre-histórico, não coaduna com nosso tempo. É aberração, horror que um aluno sofra preconceito do professor na escola. Inquérito tem que seguir o curso, não pode ficar na gaveta - diz o secretário-adjunto do órgão Eloy Ferreira.