quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Batistas se comprometem com proteção do planeta



Durante a 91ª Assembleia da Convenção Batista Brasileira (CBB) os batistas brasileiros aprovaram a “Carta de Niterói”, documento por meio do qual assumem uma posição clara em prol da preservação da criação de Deus. Leia a íntegra do documento:

Carta de Niterói

Nós, batistas brasileiros, reunidos na cidade de Niterói (RJ), em janeiro de 2011

CREMOS que

o Universo e o ser humano foram criados por Deus para a sua glória;
a vida e o Universo, em todos os sentidos, foram dados ao ser humano como um presente de Deus;

o Universo foi dado ao ser humano para a sua morada, sustento e para o desenvolvimento de sua história de vida;

o ser humano foi criado como um ser livre, mas, ao mesmo tempo, dependente da soberania de Deus;

Deus delegou ao ser humano a gestão sábia, criativa e sustentável de sua vida e da natureza;

depois da queda e rebeldia após a criação, o ser humano desvirtuou-se dos propósitos divinos da criação e passou a gerir sem sabedoria a sua vida e a natureza, sem se preocupar com a sua sustentabilidade;

que o Evangelho de Jesus Cristo traz não somente a restauração espiritual do ser humano, mas uma nova vida e esperança à humanidade;

que os ideais do Evangelho de Jesus Cristo recuperam os ideais originais da criação reconciliando-a com o Criador.

Neste sentido, DECLARAMOS que

ao longo da história, o ser humano ultrapassou os limites da gestão sustentável da natureza e que, por conta dessa atitude, o Planeta Terra está em perigo;

já não é possível mais o ser humano continuar a ser um consumidor da realidade, da vida e do Planeta Terra;

os dilemas ambientais e ecológicos não afetam apenas o cosmos, mas também a natureza humana e, neste sentido, o ser humano como um micro-cosmo também tem prejudicado a sua saúde física, mental-emocional, social e espiritual pelo inconsequente e imediatista estilo de vida adotado;

os cristãos, em geral, têm se preocupado mais com a redenção espiritual do ser humano, nem sempre considerando o ser humano e a vida em todos os seus aspectos.

Por fim, CONCLAMAMOS que

os cristãos de toda a Terra busquem compreender que o Evangelho todo é para todo o ser humano e para o ser humano todo, incluindo a sustentabilidade da vida humana e da natureza;

cada ser humano assuma o compromisso de cuidar com sabedoria, criatividade e sustentabilidade de sua vida, de seus relacionamentos e da natureza;

os empresários assumam o compromisso de participar da preservação do ambiente em seus mais variados aspectos – social, ecológico, distribuição justa de bens e oportunidades para todos;

os empreendimentos imobiliários sejam planejados e executados de modo a preservar o meio ambiente e a transformar o Planeta Terra numa habitação segura para a vida humana;

que a educação ambiental e para a vida seja incluída na formação do sujeito histórico desde a sua infância em nossa Nação.

as autoridades governamentais, em todos os níveis, lutem contra a inépcia, a corrupção, o imediatismo, estabelecendo legislação sábia, séria e respeitosa à vida humana, à preservação e ocupação do meio ambiente;

as autoridades assumam com seriedade o papel de agente fiscalizador do uso sustentável da natureza de modo a preservar também a vida humana, evitando assim os desastres ambientais como os que ultimamente temos sofrido.

Tudo isto para que conquistemos a VIDA PLENA E O MEIO AMBIENTE.

Niterói (RJ), 91ª Assembleia da Convenção Batista Brasileira, 25 de janeiro de 2011

Comissão da Carta de Niterói

Mere Márcia Prado Bello
Norton Riker Lages
Lourenço Stelio Rega (relator)


Fonte: Vida e Meio Ambiente

"Tolerância religiosa no Brasil não é herança holandesa"



Católicos, protestantes e judeus convivendo e trabalhando juntos, com mais liberdade de culto. Assim descreve o Brasil holandês o pesquisador Evan Haefeli, professor assistente da Universidade de Colúmbia (EUA).

“O Brasil tem um lugar muito especial na história da tolerância, porque antes da Revolução Francesa era o único lugar no mundo onde protestantes, católicos e judeus viviam suas crenças, mais ou menos abertamente.”

Primeira sinagoga das Américas
Um dos maiores exemplos dessa tolerância ainda pode ser visto: está no Recife a primeira sinagoga das Américas, construída durante o período da ocupação holandesa no Brasil. “A construção da sinagoga abriu um novo mundo de oportunidades para que os judeus pudessem professar sua fé abertamente e não serem judeus convertidos ou cristãos novos”, explica Haefeli.

Segundo Haefeli, porém, a tolerância religiosa, vista por muitos até nossos dias como característica brasileira, não é uma herança do período holandês. Este processo de aceitação mútua já estava em curso desde antes da chegada de Maurício de Nassau, visto por alguns pesquisadores como o responsável pela implantação dessa política de tolerância.

“Isso aconteceu de duas maneiras. Primeiro, antes da chegada dos holandeses, não havia inquisição no Brasil de maneira regular. Havia algumas visitas de inquisidores, que chegavam para investigar um caso ou outro”. Por isso, e também pelas oportunidades comerciais, muitos judeus já viviam no Brasil português.

Interesses econômicos
Outro motivo destacado pelo pesquisador é que, antes dos holandeses, ainda que não houvesse uma política oficial de tolerância, os portugueses não pressionavam tanto os habitantes da colônia a adotar o catolicismo, como fizeram em outras partes do mundo.

“Nem todos gostavam de ter católicos, judeus ou protestantes como vizinhos, mas as circunstâncias econômicas e políticas forçaram essas pessoas a conviver, a coexistir, de um modo diferente do que aconteceu em todos os outros lugares do mundo”, explica Haefeli.

Tolerância holandesa e portuguesa
Os holandeses, que eram protestantes calvinistas, foram mais tolerantes com os católicos no Brasil do que eram em outras colônias ou mesmo na Holanda. Além disso, eles aceitaram alguns rituais de religiões africanas para a colheita, praticados pelos escravos que trabalhavam nas plantações de açúcar.

O professor explica que esses rituais, realizados publicamente, eram considerados fundamentais até mesmo pelos católicos donos dos engenhos. “Como a razão para os holandeses estarem em Pernambuco era o açúcar, controlar a indústria do açúcar, apesar de os ministros calvinistas reclamarem, nunca se fez nada para impedir a realização destes rituais”.


Holandeses no Brasil

Os holandeses invadiram o Brasil no século XVII, estabelecendo-se no Nordeste. O principal objetivo era controlar o comércio de cana-de-açúcar na região, um dos mais lucrativos da época. A ocupação durou 30 anos. O período mais conhecido foi o governo de Maurício de Nassau (1637-1644). A região conheceu o progresso econômico e social, ganhando ainda mais importância e prosperidade no cenário mundial.

Portugueses e holandeses tinham muitas diferenças. A religião era uma das mais fortes. Os holandeses, protestantes, ocuparam um território antes dominado pelos católicos portugueses. Porém, durante o período de ocupação, procuraram conviver de maneira pacífica com os demais credos.

Fonte: Embaixada do Brasil na Holanda



Igreja pede explicações ao Estado

Quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
ISSN 1519-7670 - Ano 15 - nº 626 - 25/1/2011

RELIGIÃO & POLÍTICA
Igreja pede explicações ao Estado

Por Ligia Martins de Almeida em 25/1/2011

Como se não bastassem as mortes na região serrana do Rio de Janeiro e as brigas entre seus principais aliados – PMDB e PT –, a presidente Dilma Rousseff agora vai ter que lidar com os questionamentos da igreja católica. Empossado como prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, o arcebispo de Brasília, Dom João Braz de Avis, cobrou uma definição da presidente em entrevista publicada na Folha de S.Paulo (19/1/2011):

"Não temos uma ideia clara de quem é Dilma do ponto de vista religioso. Ela precisa explicar melhor as suas convicções religiosas para que o diálogo possa progredir. O que sabemos é que Dilma mostrou flexibilidade com relação a temas importantes para a igreja. Mas também sabemos que políticos fazem isso: durante a campanha, é uma coisa e, na prática, o caminho às vezes é outro. Eu espero que as posições dela se aproximem das posições da igreja. Para isso, precisamos conhecer melhor o que pensa a Dilma presidente em relação a certos temas. Não só o aborto, que teve destaque na disputa eleitoral, mas também quanto ao PNDH-3 [Plano Nacional de Direitos Humanos], que traz posições contundentíssimas para a igreja. Há aspectos muito bonitos com relação à questão social, mas temos aborto, homossexualismo, um monte de coisa que precisamos ver como vai ficar."

Enquanto o religioso espera para ver como as coisas vão ficar, os jornais poderiam esclarecer que questões como legalização do aborto, união de homossexuais e outros temas tão caros à igreja independem da exclusiva vontade da Presidência da República. Qualquer modificação na lei referente ao aborto ou à união legal de homossexuais, por exemplo, passa por aprovação do Congresso Nacional.

Deveriaa imprensa esclarecer também que as atitudes da presidente – ou de qualquer presidente deste país – dizem respeito apenas ao Estado, assim como as decisões da igreja (católica ou qualquer outra) dizem respeito apenas aos seus seguidores. Como disse o próprio cardeal em sua entrevista, "a separação entre igreja e Estado foi uma conquista e representa uma grande vantagem democrática em relação ao passado, quando havia a imposição da religião sobre o Estado".

O papel de cada um

A entrevista de Dom João de Braz Aviz acabou repercutindo no jornal concorrente. Em artigo publicado domingo (23/1) no Estado de S. Paulo, Débora Diniz discute o tema sob o título "Quem tem medo da laicidade?":

"De minha parte, não preciso conhecer a fé religiosa de nossa presidente para acreditar na democracia. Ainda diferente de d. João, estou certa de que, se o ex-presidente Lula se apresentou como homem de Estado, a atual presidente poderá ir além: melhor será se somente conhecermos a mulher de Estado. Se a ela for conveniente expor suas crenças privadas em matéria religiosa, que esse seja um fato indiferente à vida democrática. Mas, honestamente, preferiria que Dilma fosse não apenas a primeira mulher presidente, mas principalmente, aquela que atualizasse o dispositivo da laicidade do Estado brasileiro... Não há incompatibilidade moral entre a mulher de fé e a mulher de Estado. Só elegemos a mulher de Estado."

Enquanto a presidente da República procura organizar seu governo e enfrentar as catástrofes (naturais e políticas), melhor seria se o cardeal católico e todos os outros líderes religiosos do país se unissem em oração ou trabalhassem efetivamente para ajudar as vítimas das enchentes por esse Brasil afora. Cabe à imprensa esclarecer aos leitores que cada um tem seu papel na democracia, noticiando, comentando e, sempre que necessário, destacando que Estado e igreja são coisas diferentes.

Se cada um – Estado, igreja e imprensa – fizer a sua parte, a democracia só tem a ganhar.


Fonte: Observatório da Imprensa