sábado, 4 de dezembro de 2010

Papa diz que armas nucleares são ameaça




O Papa Bento XVI disse que o 65º aniversário do ataque a Hiroshima e Nagasaki deve servir como uma advertência sobre a contínua ameaça das armas nucleares e a necessidade de eliminá-las. Os comentários foram feitos durante a apresentação do novo embaixador japonês na Santa Sé, Hidekazu Yamaguchi.
Segundo Bento XVI, a existência de armas nucleares no mundo é uma fonte de tensão e desconfiança entre os países. Ele disse que a cada ano que passa o "horror" das bombas atômicas da Segunda Guerra Mundial fica mais forte. O papa não mencionou nenhum país especificamente, mas elogiou o Japão por servir de exemplo ao sempre procurar encontrar soluções pacíficas e políticas para os conflitos. As informações são da Associated Press.

Fonte: Agência Estado

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

''Jesus pode ser um desafio muito perigoso para a Igreja atual''. Entrevista com José Pagola

O sacerdote basco José Antonio Pagola (Guipúzcoa, 1937), o já célebre autor de "Jesús. Aproximación histórica", mantém uma visão contemporânea e radical de Jesus Cristo. O número dois de José María Setién na diocese de San Sebastián vendeu 40 mil exemplares de seu livro em dois meses, antes que a Conferência Episcopal interferisse no assunto, e a obra fosse retirada das livrarias eclesiásticas e diocesanas pela editora católica que a publicou.

A reportagem é de Matías Vallés, publicada no jornal La Nueva España, 03-10-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Ele assegura que "Jesus pode ser um desafio muito perigoso para a Igreja atual" e que é evidente que, hoje em dia, "há um confronto entre dois modelos de Igreja ou duas sensibilidades sobre a interpretação do Vaticano II".

Eis a entrevista.

O senhor se considera uma vítima?


Não. No meu livro apresento Jesus como conflitivo e perigoso. Agora comprovei na minha própria carne que ele o foi e o será sempre. Quando são conhecidas suas palavras de fogo, sua liberdade para defender as pessoas, seu projeto de uma sociedade a serviço dos últimos ou sua crítica a uma religião vazia de compaixão, Jesus gera reações encontradas de atração ou de rejeição. Creio que, em boa parte, meu livro suscitou inquietação quando se captou que Jesus pode ser um desafio muito perigoso para a Igreja atual.

Jesus Cristo era mais homem do que Deus?


Provavelmente, ninguém exerceu um poder tão grande sobre os corações como Jesus, ninguém expressou como ele as inquietações e interrogações do ser humano, ninguém despertou tantas esperanças. Ainda hoje, quando as ideologias e religiões experimentam uma crise profunda, Jesus continua alimentando a fé de milhões de homens e mulheres. Nós, cristãos, pensamos que Jesus é tão plenamente humano que não é como nós. Leonardo Boff dizia que "tão humano só pode ser Deus". Para mim, Jesus é Deus falando-nos, acompanhando-nos e salvando-nos a partir desse homem entranhável.


O senhor irá ler o livro de Hawking que nega a existência de Deus?


Não. Os trabalhos de Stephen Hawking sobre astronomia sempre me interessaram, mas não suas conjecturas sobre Deus. Os especialistas no diálogo ciência-fé afirmam que nem as religiões podem provar a existência de Deus, nem a ciência sua não existência. Parece que o homem moderno decidiu que o que o ser humano não pode provar cientificamente não existe.

Deus é necessário?


Deus não é necessário para ganhar dinheiro, adquirir poder ou conquistar bem-estar. Também não é necessário para nos dispensar do mal, do sofrimento ou das desgraças da vida. Deus serve a nós, crentes, para nos enfrentar com uma luz, um estímulo e um horizonte novo à dureza da vida e ao mistério da morte.

O senhor gostaria de manter um debate aberto com Bento XVI sobre os conteúdos de seu livro?


Gostaria que, em Roma, fossem ouvidas as diversas correntes teológicas existentes no seio da Igreja – não só na Europa –, mas, principalmente, me alegraria que a hierarquia liderasse um movimento de conversão a Jesus Cristo. Não há nada mais urgente.

Jesus tomaria as mesmas decisões que o Vaticano toma sobre a mulher?


Jesus critica uma sociedade patriarcal que estabelece o domínio e o poder do homem sobre a mulher. Essa atuação de Jesus está nos exigindo hoje uma revisão profunda da situação injusta da mulher na Igreja e na sociedade, uma conscientização mais viva da nossa infidelidade a Jesus e um processo valente de renovação orientado a que a mulher possa desfrutar sua dignidade, seus direitos e seu protagonismo.

Jesus acabou em uma fossa comum como os desaparecidos da Guerra Civil?


Não. Historicamente, é muito provável. Essa hipótese do norte-americano John Dominic Crossan não encontra apenas aceitação entre os especialistas.

Inclusive, seus críticos mais duros se renderam diante do brilhante estilo literário de "Jesus".


O que me enche de alegria é comprovar que muitas pessoas que leem meu livro sentem Jesus mais vivo e próximo, encontram um sentido diferente para a sua vida, desperta-se neles o desejo de uma vida mais humana. Encontram em meu livro algo que eu não coloquei.

O senhor pensou alguma vez que ele se converteria em um sucesso de vendas?


Nunca. Normalmente, o êxito de um livro se mede nesta sociedade pelo número de exemplares vendidos. Eu não acho isso. De "O código Da Vinci", de Dan Brown, foram vendidas milhões de cópias, mas eu o considero um fracasso, pois não introduz verdade nem esperança, não aproxima ao mistério de Jesus, não ajuda a viver de forma mais humana.

As contradições no discurso de Jesus abundam nos evangelhos?


Os evangelhos não são relatos biográficos redigidos para oferecer informação precisa de carácter histórico. São relatos que, de forma variada e matizada por cada evangelista, se recolhe a memória de Jesus. Para nos aproximarmos ao conteúdo histórico que eles conservam sobre Jesus é necessário contrastá-los, analisar os gêneros literários que empregam, os procedimentos narrativos, o vocabulário próprio de cada evangelista, o contexto.

Jesus Cristo expulsaria os mercadores do Vaticano?


Não se deve esperar que Jesus volte. A partir dos milhões de famintos e desnutridos da terra, dos pobres esquecidos pelas religiões, das mulheres humilhadas em todos os povos, Jesus está nos gritando agora mesmo, aos dirigentes do Vaticano e a todos os que nos dizemos cristãos, que expulsemos da Igreja riquezas, poderes, grandezas ou interesses que ocultam sua mensagem de esperança.


Pode-se seguir Jesus sem seguir sua Igreja?


Nestes momentos, eu não encontro outra forma melhor de seguir Jesus do que vivendo nesta Igreja, mas esforçando-me para me converter, eu mesmo, ao Evangelho e trabalhando para fomentar nela um clima de conversão para Jesus.

A crise econômica que tanto nos ocupa irá provocar um renascimento da espiritualidade?


Observo que o desejo de espiritualidade se desperta principalmente em pessoas que experimentam com força o vazio existencial, o sem sentido de sua vida, a saturação de bem-estar. Não é fácil viver uma vida que não aponta para nenhuma meta.

O que um não crente pode obter com a leitura de seu livro?


Recebi muitas centenas de cartas e escritos de leitores não crentes. A maioria me diz que se encontrou com um Jesus que nem sequer suspeitavam; alguns se sentiram chamados a repropor a sua vida com mais verdade e honestidade; muitos se sentiram libertos de medos e fantasmas religiosos que lhes fizeram sofrer muito a pesar de terem se distanciado da Igreja; muitos ficam comovidos com um Deus amigo que ama com amor incrível e imerecido a todos os seus filhos. Alguns dizem: "Oxalá que esse Deus exista". Muitos se animam a trabalhar por um mundo mais humano e justo.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Aceitar a morte. Viver o luto. Abraçar a vida



A morte tornou-se um tabu em nossa sociedade. Foi confinada às UTIs dos hospitais, escondida das crianças, apagada das conversas... Numa cultura que valoriza o prazer e o sucesso, ninguém gosta de se lembrar da existência de perdas. Mas elas existem e foram escolhidas pela pastora Blanches de Paula como tema de um doutorado em Ciências da Religião. Além de teóloga, a Revda. Blanches é psicóloga e professora da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. Nessa entrevista, ela fala como a comunidade de fé pode se tornar uma rede de apoio a quem sofre, colaborando com a formação de uma sociedade mais saudável. O título desta entrevista é o lema da organização não governamental portuguesa A Nossa Âncora (www.anossaancora.pt), criada para dar suporte psicológico a pais e mães enlutados. Esse lema resume o desafio do ser humano diante da morte: percorrer todas as fases do luto até aceitar a perda e abraçar a vida, com gratidão ao seu Criador.

Por que você escolheu o luto para tema de seu doutorado?

Há cinco anos tivemos um curso de aconselhamento sobre "tristeza e depressão", promovido pelo Instituto de Pastoral da Faculdade de Teologia. Convidamos Maria Júlia Kovács, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte da Universidade de São Paulo, para fazer a palestra de abertura. Ela falou sobre a dor da perda. Comecei a me interessar pelo tema e fui fazer um curso na USP como ouvinte. Na época, eu estava pensando em fazer doutorado na área de psicologia. Mas, depois, vi que seria interessante abordar este tema sob a ótica das Ciências da Religião.

As igrejas sabem como lidar com a questão do luto?

De maneira geral, temos muita dificuldade em lidar com perdas. Luto não é só quando morre alguém; sofremos perdas desde que nascemos: perda de emprego, divórcio, mudanças repentinas. Também há fases do desenvolvimento humano que envolvem perdas. Por exemplo: para chegar à adolescência é preciso perder a infância. Essas são questões existenciais que precisamos enfrentar. Saber lidar com o limite é saudável, não só do ponto de vista humano, mas também do cristão. Infelizmente hoje há tipos de teologia que incentivam mais o ganhar do que o aprender com as perdas e os sofrimentos.

Também tenho notado que as igrejas que passam por problemas de divisões ou grandes perdas de membros têm dificuldades em expor o trauma, discuti-lo abertamente. Passam-se 30 ou 40 anos e as pessoas ainda se lembram do ocorrido - não conseguem esquecer porque não tiveram condições de vivenciar o luto. Por isso, é necessário trabalhar uma maneira de fazer um aconselhamento pastoral mais "comunitário" - toda a comunidade tem que refletir sobre o significado da perda para sua experiência de fé e maturidade.

Como a comunidade pode ajudar o enlutado?

Já ouvi vários relatos de pessoas enlutadas que chegam a ter vergonha de demonstrar tristeza na igreja, pois ouvem frases do tipo "você tem que ter fé", "você tem que reagir".Mas o que a pessoa enlutada sente não é pecado, é uma reação esperada. Diante do luto ou da iminência de perda, existem vários estágios pelos quais se costuma passar: negação, raiva, barganha com Deus (negociações do tipo: "se eu sobreviver a esta doença, vou ser mais fiel"), depressão e, finalmente, a aceitação.

O que se pode fazer pelas pessoas que estão passando por estas fases?

A questão de negar o que aconteceué uma das mais desafiadoras: para enfrentar a realidade da morte de alguém querido, por exemplo, é importante se desfazer dos objetos da pessoa que faleceu. Alguém da igreja pode ajudar nesta tarefa. Também não se deve ocultar a realidade das crianças, usando expressões do tipo "seu pai viajou". A criança entende literalmente e ficará esperando o pai voltar. Algumas igrejas metodistas mantêm a tradição de fazer o "culto em memória". Acho que esse é um ritual importante para a família. Quanto à reação da revolta, é preciso dar o suporte da escuta, sem repreensão. Quando a pessoa consegue expor a raiva, ela tem condições de entrar em outra fase. Às vezes orar ou ficar em silêncio junto com a pessoa é a única coisa que podemos fazer. É preciso resgatar a dimensão terapêutica da oração. Deixar que Deus atue da forma que Ele quiser. Isso é importante para a pessoa que tenta "barganhar" com Deus. Ela precisa aprender a lidar com aquilo que não consegue mudar. Por isso, até nossa forma de orar deve adquirir um significado novo. Orar é dialogar!

E quanto à tristeza, como é possível saber até onde ela é normal e quando já se tornou patológica?

A média de elaboração de todo o processo de luto (segundo pesquisas na área) é de dois anos, variando bastante de pessoa a pessoa. Um estado depressivo que se estende por muito tempo pode, de fato, ter se tornado uma condição patológica, ou seja, uma doença. Nesse caso, é necessário encaminhar a pessoa a um psicólogo ou médico psiquiatra - o que, para muitas pessoas, ainda é um tabu. Tem gente que se esquece de que Deus também usa os talentos dos profissionais. Contudo, eu defendo que a Igreja continue prestando assistência à pessoa enlutada. O/a pastor/a pode ser tentado a fazer o encaminhamento quando não tem coragem de enfrentar a situação. Há casos de pessoas que tiveram assistência da igreja nos primeiros dias depois da perda e depois se sentiram abandonadas. A presença pastoral em situações de perda é salutar quando evocamos a dimensão consoladora do cuidado de Deus.

Mas nem todo mundo tem aptidão para visitar ou falar com o enlutado, não é?

Isso é um fato que ocorre, também, no ministério de visitação hospitalar: nem todo mundo tem vocação ou foi devidamente preparado para saber o que falar, como se portar no ambiente hospitalar, etc. E para dar esse tipo de assistência também é necessário fazer uma auto-reflexão sobre as próprias perdas. Uma iniciativa interessante de algumas igrejas é a criação de grupos de suporte ao luto, muitas vezes coordenados por pessoas que já passaram pelo problema. O grupo é acionado quando morre alguém da comunidade e fica disponível para cuidar de todos os detalhes - desde ajudar no funeral até lidar com seguro, inventário, compra de alimentos e suporte emocional. A comunidade de fé pode ajudar muito neste momento. Precisamos lembrar que nossa teologia é baseada em Jesus Cristo, que chorou a perda do amigo Lázaro e se permitiu perder a própria vida, por amor à humanidade. Ao lidar com as perdas e com os sentimentos que envolvem esse fenômeno humano, Jesus nos encorajou a viver e descobrir a cada dia aquilo que podemos fazer hoje sem deixar para o amanhã. Aí está uma semente de esperança.

Suzel Tunes


Fonte: http://www.revistaentheos.com.br/

O filme Avatar como vivência religiosa e as implicações para a teologia prática


De Júlio César Adam*


Nas férias de verão, assim como alguns milhões de pessoas no planeta, fui assistir o filme Avatar, do diretor James Cameron. Além da empolgante propaganda na TV, sabia muito pouco sobre o filme. Não imaginava, no entanto, a intensidade de “religião” que encontraria nas quase três horas de filme.

PARTE I:

Não só os avatares do filme deixavam seus corpos humanos para ingressarem no mundo dos na’vis. Todos nós, espectadores, éramos ligados a uma experiência, muito além do que um simples filme. Isto já seria um aspecto suficientemente religioso para se pensar. Ir ao cinema tem algo de ritual – a pipoca, as luzes que se apagam, o silêncio–, algo de simbólico – luz e movimento que nos conectam a histórias, mitos do lado de cá e da lá da tela –, algo de transcendente – vamos além de nós mesmos. Todos estes elementos são em si religiosos. Mas é no que se refere ao conteúdo, à história da Avatar, que aqui quero mais me deter. Começando pelo próprio título “Avatar”[1] termo proveniente do hinduismo, as diversas conexões estabelecidas entre seres imanentes e transcendentes, a Árvore das Almas, a divindade Eywa, localizada no lugar mais central e sagrado do mundo de Pandora.

Compreendo que é também tarefa da teologia e em especial da teologia prática buscar entender estes elementos “religiosos” presentes no filme e que, também ou justamente por isto, arrastaram milhões de pessoas de diferentes culturas e religiões. Estaria o cinema, através de filmes como Avatar, suprindo a sede religiosa do ser humano? Seria o cinema o grande culto dos habitantes da atualidade? O que tem a teologia cristã a ver com tudo isto? O que a teologia prática pode tirar desta “religião nas telas dos cinemas”?

Fenômeno da religião vivida

No limiar do século XXI vivemos um fenômeno religioso. Contra todas as pressuposições, vivemos um retorno e um incremento do religioso[2]. Ou seja, contrário às previsões de que o ser humano da era científica e tecnológica seria a-religioso, emancipado, vivemos um verdadeiro avivamento da religião, tanto da institucional, como da religiosidade que perpassa a cultura[3]. O retorno do religioso na contemporaneidade é um fenômeno complexo, multifacetado. Uma das suas características é a independência da religião de suas respectivas instituições. Vive-se uma transmigração de fronteiras confessionais. Outra característica é a manifestação do religioso na esfera dita “profana”, ou seja, fora da instituição religiosa, fora da igreja instituição, fora da própria esfera religiosa. Mais do que sincretismo, mais que transgressão de fronteiras, se diluem as próprias fronteiras entre sagrado e profano. É dentro desta característica, que esta análise do filme Avatar se enquadra.

Estamos vivenciando a religião que migrou para esfera da cultura popular e para o cotidiano da vida. Onde pois encontramos hoje pistas desta religião? Com certeza não apenas na Igreja. Podemos encontrá-la nas colunas de aconselhamento nas revistas e nas ilustrações dos personagens fictícios dos comic strips, nas páginas de horóscopo, e no vasto mercado dos livros esotéricos. Podemos encontrá-la nas artes plásticas com suas chocantes e questionáveis obras, apontando para nossa imperceptível transcendência cotidiana. Podemos encontrá-la na terapêutica com sua oferta de vivência individual e meditações sincréticas. Podemos encontrá-la em facções políticas, que exigem relações de inclusão social e asseguram identidades pessoais. Podemos encontrá-la no consumo, através das propagandas com promessas religiosas. Podemos encontrá-la na indústria do turismo, no culto em torno à alimentação e aos exercícios físicos, que faz do paraíso uma promessa[4].

Esta religião vivida no cotidiano está, pois, presente na literatura[5], nos heróis das histórias em quadrinhos[6], na moda e em tendências de comportamento[7], na música[8], na mídia[9] e no marketing[10]e, não por último, no cinema[11]. Tudo isto revela aspectos de uma sociedade na complexidade onde as idéias, expressões, necessidades, saberes, culturas se entrelaçam e precisam, para serem acessadas e entendidas, ser olhadas na inter-relação, na re-ligação.[12]


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* Júlio Cézar Adam é doutor em teologia, pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e professor na Faculdades EST, São Leopoldo/RS/Brasil.


[1] Conforme o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, avatar é cada uma das encarnações de um deus, sobretudo de Vixnu; transformação, metamorfose.

[2] ALVES, Ruben. O enigma da religião. 4. ed. Campinas: Papirus, 1988. p. 59-82.

[3] BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 205-230; RIBEIRO, Jorge Cláudio. Religiosidade jovem: pesquisa entre universitários. São Paulo: Loyola/Olho d’Água, 2009.p. 75-108.

[4] GRÄB, 1995, p. 47. (tradução do autor)

[5] MAGALHÃES, Antônio. Deus no espelho das palavras. São Paulo: Paulinas, 2000.

[6] . IRWIN, William (Coord.). Super-heróis e a filosofia: verdade, justiça e o caminho socrático. São Paulo: Madras, 2005; REBLIN, Iuri Andréas. “Para o alto e avante!”: mito, religiosidade e necessidade de transcendência na construção dos super-heróis. Protestantismo em Revista, v. 04, n. 02, mai./ago. 2005. Disponível em: http://www3.est.edu.br/nepp/revista/007/07iuri.htm,

Acesso em: 22 dez. 2008.

[7] LIPOVETSKY, Gilles, A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Cia das Letras, 2006. p. 131ss.; GALINDO, D., GUSSO, A. C. Quando o sagrado vira moda. In: MELO, José Marques de; GOBBI, Maria Cristina; ENDO, Ana Claudia Braun (Orgs.). Mídia e religião na sociedade do espetáculo. São Bernardo do Campo: UMESP, 2007. p. 62-78.

[8] CALVANI, Carlos E. Momentos de beleza: teologia e MPB a partir de Tillich. In: Portal de Publicações Científicas, n. 8. Disponível em: http://www. metodista.br/ppc/correlatio/correlatio08/momentos-de-beleza-2013-teologiae- mpb-a-partir-de-tillich Acesso em 21 mar. 2010.

[9] MELO, José Marques de; GOBBI, Maria Cristina; ENDO, Ana Claudia Braun (Orgs.). Mídia e religião na sociedade do espetáculo. São Bernardo do Campo: UMESP, 2007.

[10] BOLTZ, Norbert; BOSSHART, David. Kult marketing: die neuen Götter des Marktes, Düsseldorf: Econ, 1995. BECKS, Hartmut. Der Gottesdienst in der Erlebnisgesellschaft. Waltrop: Spenner, 1999.

[11] HERRMANN, Jörg. Sinnmaschine Kino: Sinndeutungen und Religion im populären Film. Gütersloh: Kaiser, 2000.; KIRSNER, Inge. Film, Fragment, Fraktal: eine kleine Kino-Apokalypse. In: STOLT, Peter; GRÜNBERG, Wolfgang; SUHR, Ulrike (Hrsg.). Kulte, Kulturen, Gottesdienste : öffentliche Inszenierung des Lebens. Göttingen : Vandenhoeck &Ruprecht, 1996. p,50-62.

[12] MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento, 2006; MORIN, Edgar. A religação dos saberes: desafio do século XXI, 2.ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2002.


Fonte: Artigo publicado na revista Signos de Vida, número 56, julho de 2010 (publicação do Conselho Latinoamericano de Igrejas)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Cuidar da nossa Casa Comum, a Terra


4ª JORNADA ECUMÊNICA

01 de setembro de 2010
4ª JORNADA ECUMÊNICA: ECUMENISMO, ECOLOGIA, ECONOMIA E VIDA
"... e vossos jovens terão visões..." Joel 2.28
O FE Brasil, está oferecendo 250 bolsas integrais de hospedagem e alimentação, aos participantes da 4ª Jornada Ecumênica, a realizar-se de 11 a 15 de novembro de 2010, em Itaici, Indaiatuba, SP.
Os(as) contemplados(as) por essas bolsas, arcarão com os seus custos de transporte e pelo pagamento da taxa de inscrição de R$ 30,00.
Portanto todos(as) que pretendem participar - do FE Brasil, do FE Sul, das REJUs, Jornadeiros(as) de antigas e de primeira viagem - deverão enviar já, a sua ficha de inscrição, garantindo a sua bolsa integral para projornada@koinonia.org.br.
As inscrições que ultrapassarem as 250 bolsas integrais, pagarão o valor real de hospedagem e alimentação, que é de R$ 360,00.
Se você quer participar, mas não tem recursos para arcar com o transporte, procure se informar sobre as caravanas que estão se organizando a partir de Belém, Recife, Goiânia, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Informe-se com Marilía e Ana Gualberto, de KOINONIA (21) 3042 6445 ou koinonia@koinonia.org.br
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Então? O que você está esperando?
Faça já a sua inscrição!
Última Atualização ( 06 de setembro de 2010 )

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Conselho de Direitos Humanos da ONU condena ataques contra religiões


Genebra, 30 set (EFE) - O presidente do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Sihasak Phuangketkeow, condenou nesta quinta toda forma de agressão e discriminação contra religiões, como a queima de livros sagrados.

"O Conselho condena os recentes exemplos de intolerância religiosa, violência, preconceito e discriminação que seguem ocorrendo no mundo todo", afirmou o presidente.

"Em vista do número crescente de demonstrações de intolerância religiosa, como a discriminação, a vinculação de religião com terrorismo, o desrespeito e a destruição de livros, lugares e santuários sagrados, tomo a palavra com o aval de todos os membros do Conselho para fazer a declaração", disse Phuangketkeow.

O presidente do Conselho de Direitos Humanos da ONU falou em nome dos 47 membros da entidade, depois que os promotores de uma "resolução" que condenava o anunciado e posteriormente suspenso Dia da Queima do Corão desistiram de lançá-la.

A ideia de se criar um dia para queimar exemplares do Corão teve autoria do pastor americano Terry Jones, líder de uma seita cristã em Gainesville (Flórida), e gerou indignação em vários países-membros do Conselho.

Phuangketkeow apelou à comunidade internacional para rejeitar toda forma de intolerância religiosa e atuar em defesa de práticas de entendimento mútuo e de respeito ao próximo.


Fonte: http://www.google.com/hostednews/epa/article/ALeqM5g6Z3Qr9-VRvK8szhC-kLh-Rxl0Dg?docId=1375614

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

El Dios de la perplejidad, libro a dos más manos (de un musulmán y un cristiano)




Un musulmán (A. Aya) y un cristiano (J. M. Martín Portales),amigos de alma y compañeros de peregrinación (a los que tengo el gozo de admirar y querer) han escrito un libro único en nuestro panorama editorial, como una sonata a dos manos, pero de pianistas distintos: El Dios de la Perplejidad (Herder, Barcelona 2010). Así se han hermanado, tras años de aprendizaje, de silencio y de amistad de fe. Han tomado, y no es por acaso, el título de un libro inmenso, escrito por otro andaluz universal (el judío Maimónides), titulado Guía de perplejos. La referencia a aquel judío es esencial, pues así se hermanan las tras religiones (de las que V. Aya y un servidor hemos hecho un Diccionario, en Verbo Divino, Estella 2009). Lo judío está en el fondo, lo musulmán y lo cristiano aflora a la limpia superficie. Pero Maimónides escribió en clave más racional (por eso se le opusieron los más místics, de la cábala y de otras líneas). A. Aya y Martín Portales escriben también desde la racionalidad, pero, sobre todo, desde la vivencia creadora, que conecta con el Dios vivo (¡el Dios perplejo, gozoso, desbbordante...!). A ambos mi enhorabuena por este libro, que rcomiendo a mis lectores. Ellos no tienen necesidad de hacer ecumenismo. Son ecuménicos, como veréis leyendo la Introducción de X. Melloni y la Presentanción que ellos mismos hacen de su libro.

Introducción:

La Editorial Herder acaba de publicar El Dios de la perlejidad: una serie de textos de meditación firmados por Abdelmumin Aya y José Manuel Martín Portales que demuestran que un diálogo islamocristiano es posible.

Los autores de esta obra tienen varias cosas en común: ambos son creyentes, uno musulmán y otro cristiano; ambos aman la palabra esencial y por ello son poetas; y los dos son hijos de Andalucía, una tierra de luz en la que convivieron antaño cristianos y musulmanes y en la que ahora vuelven a convivir. ¿Convivir? ¿O fue y sigue siendo una mera yuxtaposición en sorda guerra? Este libro es brecha para los muros que se yerguen entre las dos comunidades y puente para que se transite entre ellas.

En estas páginas dos voces logran hacerse una para balbucear juntas aquello que no puede ser dicho ni hablado. Dos plumas escriben una sola grafía para apuntar hacia una Profundidad en la que toda palabra se desvanece. Ha llegado el tiempo de que el diálogo entre cristianos y musulmanes ya no sea una cuestión etológica (“ciencia sobre el comportamiento animal”, mayormente en torno a la defensa del territorio) para convertirse en un asunto teológico, más allá de los territorios construidos por las respectivas teologías. Estas páginas son atisbo de que ya es tiempo de ello.

No puede distinguirse qué página, párrafo o línea corresponde a cada autor porque han dejado su autoría en manos de Quien les ha dado la palabra, la página en blanco y la tinta para dibujar con ellas cenefas del Misterio. No hay protagonismo alguno porque el único protagonista es la indagación y fe compartidas hacia la Hondura que continuamente van abriendo mente y corazón más allá de sí mismos, acallando a una razón que, silente, es capaz de recibir sentidos que no le pertenecen.

Noventa y nueve densos y breves capítulos ofrecidos por dos creyentes. Esta cifra hace referencia a los noventa y nueve nombres de Alláh que recoge el Corán, dejando el número cien más allá del lenguaje humano y también para que el lector lo complete, porque ese último Nombre no-revelado es irrepetible para cada cual. Noventa y nueve meditaciones de temas que van apareciendo al hilo de una reflexión compartida de la que los autores nos han dejado su sedimentación final. Límpida, diáfana, esencial. Sin adornos y por ello tan preñada de belleza.
Estas reflexiones se abisman en el Dios de la perplejidad para hacernos partícipes de la convicción de sus autores de que cuando se pretende acceder a Él por el camino de la razón conquistadora, Dios desaparece. Pero cuando la razón sabe descalzarse y aceptar sus límites, y es capaz de entregarse, entonces se va desvelando el Misterio no como un enigma ni como un límite, sino como el fondo sustentador del acto mismo del pensar. Quien se adentre en la lectura de este libro verá aparecer una deslumbrante luz que no resuelve las perplejidades de la fe que un cristiano y un musulmán comparten. Quien se mantenga firme página tras página compartirá con ellos la aventura de preguntarse lo que todo creyente se ha preguntado alguna vez. Y encontrará como respuesta la profundización de la pregunta hasta su raíz, ahí donde el interrogante se acalla para dejar paso a la adoración del Misterio que no se puede inquirir. Sólo se puede recibir.

Necesitamos obras como ésta que nos sitúen en un lugar que nos despertenence. Al despertenecernos somos convocados al Lugar de donde surge toda revelación: el acto de donación que brota continuamente de Dios y al que sólo se accede por la entrega (en lenguaje cristiano) y por la sumisión (en lenguaje islámico, que es lo que significa la misma palabra “Islam”). Así, la teología no deviene una construcción de sistema de pensamiento donde secuestrar a Dios sino una deconstrucción permanente de todo sistema para abrirse al Dios siempre mayor oculto en la misma capacidad de pensar, de inquirir e indagar que ha dado a los humanos para encontrarle (Xavier Melloni)

Presentaciòn

INTRODUCCION

El profeta Muhammad invocaba
a Dios diciendo: Allahumma,
aumenta mi perplejidad en Ti.

La Revelación es la palabra de lo que ocurre en el abismo. La conciencia se planta ante el abismo y el profeta es quien habla enfrentándose con él. Luego, transmite lo que experimenta como una palabra frágil. Por eso, lo que comprendamos se nos dará a partir de lo que no comprendamos.

Existen niveles de perplejidad en la Revelación. Todo lo que expresa la palabra profética es Revelación, pero no todo tiene la virtud de sacar al profeta de donde está y llevarle a un hábitat desconocido. Nos fijaremos particularmente en los aspectos más desconcertantes de la Revelación. En el diálogo que hemos mantenido, nuestra metodología fue poner en comunión algunos versículos revelados de cada una de nuestras tradiciones –el Islam y el Cristianismo-, sin explicarlos desde lo ya sabido, sino abriéndonos a la posibilidad de una lucidez compartida. Dentro de todas las tradiciones religiosas existen determinadas palabras difíciles de comprender, a veces incluso escandalosas. Se trataba de comprobar si esos elementos desconcertantes de las distintas Revelaciones apuntaban en una misma dirección, si eran una misma palabra, y si esa palabra podía ser entendida sólo en el diálogo. El objetivo era saber si Dios se había dicho a sí mismo una y otra vez sin haber sido comprendido porque no habíamos sabido escuchar al otro. Dios espera a nacer en silencio del diálogo entre los hombres. Porque sólo el diálogo fabrica inocencia.

En la hermenéutica que suele hacerse se pregunta a la realidad sobre el misterio. Nosotros hacemos al contrario: preguntamos al misterio sobre la realidad. Como respuesta obtenemos el silencio que sigue a toda perplejidad. Esperamos compartir el silencio de Dios. Vamos desde lo que se sabe a lo que no se sabe. Vamos hacia la perplejidad y no hacia la certeza. No se trata de encontrar respuestas sino de fabricar preguntas. La pregunta es tu riqueza recuperada. Te ha sido devuelta tu pregunta y ésta es la perplejidad que te permite reinventarte. Sólo así logramos abrir el futuro y no ofrecernos como clausura de futuro. Las teologías desactivan el futuro; el misterio de la Revelación se resiste a convertirse en una verdad. Únicamente cuando sostienes la perplejidad por la existencia, ésta no se fractura, ni te aleja de sí. Sabemos ahora una cosa: sólo puedes habitar el mundo que no comprendes. Y, tan sólo, si no lo comprendes junto a otros. La potencialidad de la conciencia está en un no-saber compartido. Dios dice: “Si me buscas, olvida tu lámpara. Apaga las antorchas. Yo soy la oscuridad que debéis compartir. Hazte, con los que son como tú, pájaro ciego”.

(A. Aya y J. M. Martín Portales)



Fonte: http://blogs.periodistadigital.com/xpikaza.php/2010/09/13/p279001#more279001

Panikkar, pensador único e irrepetible

27.08.10 | 17:04. Archivado en Teólogos

Fue, sin duda, uno de los pensadores más lúcidos de nuetros tiempo. Raimon Panikkar marcó una forma de hacer teología y de ser teólogo. Tuve la suerte de coincidir con él y de entrevistarle en varias ocasiones y siempre salía del encuentro con una esperanza rediviva y redimensionada. Era como un santón hindú pero en teólogo católico. Un enamorado del diálogo interreligioso y un hombre con un recorrido vital excepcional. Supo transitar desde la sensibilidad más conservadora del Opus Dei hacia otras más ecuménicas y fronterizas. Sin grandes alharacas. Sin hacer demasiado ruido. Deslizándose suavamente, con su eterna sonrisa y su gafas a lo Ghandi.

La última vez que le vi fue en Montserrat en un encuentro interreligioso internacional. Parecía tan monje como los monjes sin ser monje. Y era el centro del simposio. Todo el mundo estaba pendiente de lo que él decía. Era una auténtica autoridad. Y una persona auténtica. Con una obra centrada en el diálogo interreligioso e intercultural, avalado por más de 50 libros.

Solía decir: "La religión no es un experimento, sino una experiencia de vida, a través de la cual se forma parte de la aventura cósmica". O "la gran epidemia moderna es la banalidad".

Durante 30 años tuvo un contacto intenso con la India, que visitó por primera vez en 1954. «Me marché cristiano, me descubrí hindú y regreso budista, sin haber dejado de ser cristiano», solía repetir, para explicar su ser creyente.

«¿Dónde encuentra Vd. su identidad?», le preguntaron en una ocasión. Y el respondió: "Perdiéndola, no buscándola: no queriéndome aferrar a una identidad que aún no está realizada y que no se puede encontrar desde luego en el pasado, porque entonces sería una copia de algo viejo. La vida es riesgo; la aventura es novedad radical; la creación se produce todos los días, algo absolutamente nuevo e imprevisible".

Descanse en paz este gran pensador y gran persona que ha abierto el camino del diálogo interreligioso "dialogal" y auténtico.

José Manuel Vidal


Fonte: http://blogs.periodistadigital.com/religion.php/2010/08/27/panikkar-pensador-unico-e-irrepetible

Raimon Panikkar, um ícone da unidade


(Foto: http://picsdigger.com/image/09d41830/)

Morreu Raimon Pannikar. Com 91 anos, o filósofo e teólogo do diálogo inter-religioso morreu na sua casa de Tavertet, na Catalunha, na passada quinta-feira à tarde. O funeral foi este sábado, mas a cerimônia pública de homenagem será uma missa de homenagem na próxima sexta-feira, dia 3 de Setembro, às 17h, na Abadia de Montserrat.
Filho de mãe catalã e pai hindu, Panikkar era ele próprio um ícone da unidade que ele tanto pugnava nas suas obras - nomeadamente, aquelas em que falava do diálogo inter-religioso. As suas cinzas ficarão em Tavertet e no rio Ganges, na Índia.

José Manuel Vidal escreveu no ReligionDigital um pequeno obituário e vários outros textos e vídeos. O site oficial de Raimon Panikkar tem também diversos textos e artigos.
Em 2004, no Parlamento das Religiões do Mundo que decorreu em Barcelona, tive o gosto de o entrevistar para o Público. Aqui ficam excertos dessa entrevista.

O diálogo inter-religioso é imparável

O diálogo inter-religioso tem altos e baixos, mas já ninguém o pode parar. Essa é a convicção do co-presidente do Parlamento das Religiões do Mundo, que hoje termina em Barcelona. Raimon Panikkar é, ele mesmo, um símbolo vivo desse processo, pois é filho de um hindu e de uma catalã.
Veste-se à maneira indiana e calça sandálias. Padre católico, Raimon Panikkar vive, sem televisão, numa aldeia da Catalunha, com 60 habitantes, onde recebe, uma vez por semana, quem com ele quer falar. Publicou dezenas de livros (alguns traduzidos em português, pela Editorial Notícias, como “A Trindade”), é reconhecido e apreciado por muita gente da rua. Voz e rosto sereno, olhos tranquilos, é um dos principais teólogos e filófosos europeus contemporâneos.

P. — Um dos argumentos mais ouvidos é que as religiões têm um papel social e político a desempenhar. Isso significa que a dimensão religiosa está esgotada?
R. — Não, significa que as religiões descobrem que devem incarnar-se neste mundo e não devem preocupar-se exclusivamente com o céu e o outro mundo — sobretudo no caso do cristianismo, que é inclusivo. Não podemos passar por cima das injustiças institucionais e de tantos problemas concretos, mesmo se as religiões não são para solucionar todas as coisas. As religiões criam opinião, promovem consciência e abrem caminhos mais pacíficos.

P. — O diálogo inter-religioso começou há três décadas e hoje atingiu já uma dimensão fundamental para o mundo. Como analisa esta evolução?
R. — Contesto a sua pergunta. o diálogo inter-religioso começou no século I, do ponto de vista do cristianismo, quando os primeiros cristãos, que eram judeo-cristãos, falaram com os gregos e helenizaram o cristianismo. Depois, este cristianismo helenizado dialogou com o mundo germânico. Mais tarde, fossilizou-se um pouco com o colonialismo, onde se pensava que não se devia entrar em diálogo com o outro.

P. — Mas esta forma de diálogo actual é diferente. Acha que vai no bom caminho?
R. — O processo é imparável, não há quem o páre, e vai na direcção certa. [No caso do catolicismo] o Concílio Vaticano II [1962-65] abriu as portas [da Igreja Católica] e tirou a muitos católicos os problemas de consciência que sobre eles pesava acerca do exclusivismo da salvação. Agora, por razões políticas, às vezes trava-se. vai-se com prudência, fecham-se janelas. Falar para mil milhões de pessoas tem que ser com modos diferentes, por isso por vezes parece que se vai mais lentamente. Há grupos que querem mais abertura, outros têm medo de perder identidade e preferem defender-se.

P. — Afirmou neste parlamento que as religiões servem de desculpa para guerras políticas e económicas. Como se combate essa violência de marca religiosa?
R. — Em primeiro lugar, não combatendo, porque o combate seria já violento. Em segundo, tirando o medo, porque muitos fecham-se no seu grupo por terem medo de perder a identidade. Perdemos a dimensão mística das religiões e identificam-se religião com crença: se eu digo uma coisa e o outro diz diferente, eu tentarei eliminar quem diz diferente.

P. — O senhor é um símbolo vivo do diálogo inter-religioso. É possível fazer uma síntese entre credos diferentes?
R. — Não se trata de uma síntese, mas de fecundação mútua. Nem é tão pouco um ecletismo, mas um enriquecimento, que será consequência de um maior conhecimento, do amor e do encontro com a diferença. Dou-lhe um exemplo: os católicos têm necessidade do budismo para recordar a dimensão da contemplação e do silêncio. O encontro serve para enriquecer e contactar com o que cada um esqueceu da sua tradição.

P. — O que têm os católicos a aprender do hinduísmo?
R. — Deixe-me criticar a pergunta: o que necessitamos é, mutuamente, uns dos outros. Não posso só enriquecer-me com os outros, mas partilhar também o que sou. Pode aprender-se a contemplação, a paciência. Mas posso dizer-lhe que, do hinduísmo, os cristãos podem aprender a tolerância, a superar a razão, a não reduzir as coisas apenas a uma dimensão.

EM COMPLEMENTO:
(mp)